Saturday, September 28, 2013

Visiteu (da série Conto N'Ato)

Visiteu

Depois da invenção dos programáquinas espaçotemporais (porque viajar no tempo é o mesmo que viajar no espaço e é aí que mora o perigo, como já mostrei) as escolas que zelavam pelo aprendizado mais apurado pelos alunos procuraram promover excursões e levaram os infantes ao futuro, para ver como ficaram depois de 20, 30, 40, 50 anos. Receber o convite de 20 anos no futuro poderiam significar não haver nenhum futuro a 30, 40, 50 anos adiante, porisso era aleatório e as pessoas não sabiam mesmo se era este ou aquele caso, de modo a não ficarem assombradas e pararem de produzir.
Eram organizadas por grau (primeiro, segundo, universitário) e nestes por classe de ensinaprendizado, digamos 1/3 (terceiro ano do primeiro grau) ou 3/2 (segundo ano do curso na faculdade) e assim por diante.
Não só viajavam no tempo como também no espaço.
Às vezes seu eu-futuro mudava do Brasil para a Itália, indo residir na Campanha, onde obviamente se falava italiano e logo a criança ou jovem via a necessidade de aprender a língua, voltava todo entusiasmado.
Chegava lá e deparava com o eu-futuro careca, barrigudo, com duas crianças remelentas do terceiro casamento, com 55 anos, nossa, que velho. Se 40 já é inimaginável, quanto mais 55. Voltavam revoltadas. E cada coisa que iriam ser, era de dar nó nas tripas: doenças que ninguém esperava, divórcios, guerras, violências, distanciamentos dos melhores amigos, o futuro era cheio de notícias ruins. Cânceres, batidas de carro, internações em hospícios, nesses casos os governos apagavam seletivamente suas mentes ou as pessoas, se maiores até 21, tinham de assinar termo se comprometendo a mudar, ou seus pais e mães.
Em compensação as empresas passaram a fazer o contrário, a enviar seus funcionários ao passado para dar-lhes lições de humildade, para fazê-los raciocinar sobre o que tinham projetado ser e no que efetivamente tinham se tornado, o que em tese os curaria de idealismos e promessas.
Chegavam à década dos 1970 e deparavam com as bocas de sino, com as promessas de revolução, com os socialismos de ocasião, todos eles que tinham se tornado extremamente conservadores ou reacionários ou empresários bem sucedidos que abominavam o “passado de sonhos”.
BELCHIOR CONTANDO O VIL METAL
Como Nossos Pais

Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...
Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado pra nós
Que somos jovens...
Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...
Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...
Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...
Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...
Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...
Hoje eu sei
Que quem me deu a ideia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais...

Composição: Belchior

DÉCADAS-DENTES
1940
1950
1960
1970

- Ó, meu Deus, como eu era idiota. Acreditava nas falsas promessas dos líderes comunistas-socialistas, acreditava nos ecologistas, acreditava nos falsos amigos que se diziam preocupados com o povo e logo em seguida foram super-acumular. Vixe Maria, como o futuro se parece pouco com as promessas do passado! Poucos se mantêm fiéis a suas crenças!
Serra, segunda-feira, 12 de novembro de 2012.
José Augusto Gava

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