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Depois da invenção dos programáquinas espaçotemporais (porque viajar no tempo é o mesmo que viajar no espaço e é aí que mora o perigo, como já mostrei) as escolas que zelavam pelo aprendizado mais apurado pelos alunos procuraram promover excursões e levaram os infantes ao futuro, para ver como ficaram depois de 20, 30, 40, 50 anos. Receber o convite de 20 anos no futuro poderiam significar não haver nenhum futuro a 30, 40, 50 anos adiante, porisso era aleatório e as pessoas não sabiam mesmo se era este ou aquele caso, de modo a não ficarem assombradas e pararem de produzir.
Eram organizadas por grau (primeiro, segundo, universitário) e nestes por classe de ensinaprendizado, digamos 1/3 (terceiro ano do primeiro grau) ou 3/2 (segundo ano do curso na faculdade) e assim por diante.
Não só viajavam no tempo como também no espaço.
Às vezes seu eu-futuro mudava do Brasil para a Itália, indo residir na Campanha, onde obviamente se falava italiano e logo a criança ou jovem via a necessidade de aprender a língua, voltava todo entusiasmado.
Chegava lá e deparava com o eu-futuro careca, barrigudo, com duas crianças remelentas do terceiro casamento, com 55 anos, nossa, que velho. Se 40 já é inimaginável, quanto mais 55. Voltavam revoltadas. E cada coisa que iriam ser, era de dar nó nas tripas: doenças que ninguém esperava, divórcios, guerras, violências, distanciamentos dos melhores amigos, o futuro era cheio de notícias ruins. Cânceres, batidas de carro, internações em hospícios, nesses casos os governos apagavam seletivamente suas mentes ou as pessoas, se maiores até 21, tinham de assinar termo se comprometendo a mudar, ou seus pais e mães.
Em compensação as empresas passaram a fazer o contrário, a enviar seus funcionários ao passado para dar-lhes lições de humildade, para fazê-los raciocinar sobre o que tinham projetado ser e no que efetivamente tinham se tornado, o que em tese os curaria de idealismos e promessas.
Chegavam à década dos 1970 e deparavam com as bocas de sino, com as promessas de revolução, com os socialismos de ocasião, todos eles que tinham se tornado extremamente conservadores ou reacionários ou empresários bem sucedidos que abominavam o “passado de sonhos”.
BELCHIOR CONTANDO O VIL METAL
Como Nossos Pais
Não quero lhe falar,
Meu grande amor, Das coisas que aprendi Nos discos...
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo Viver é melhor que sonhar Eu sei que o amor É uma coisa boa Mas também sei Que qualquer canto É menor do que a vida De qualquer pessoa...
Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina Eles venceram e o sinal Está fechado pra nós Que somos jovens...
Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua É que se fez o seu braço, O seu lábio e a sua voz...
Você me pergunta
Pela minha paixão Digo que estou encantada Como uma nova invenção Eu vou ficar nesta cidade Não vou voltar pro sertão Pois vejo vir vindo no vento Cheiro de nova estação Eu sei de tudo na ferida viva Do meu coração...
Já faz tempo
Eu vi você na rua Cabelo ao vento Gente jovem reunida Na parede da memória Essa lembrança É o quadro que dói mais...
Minha dor é perceber
Que apesar de termos Feito tudo o que fizemos Ainda somos os mesmos E vivemos Ainda somos os mesmos E vivemos Como os nossos pais...
Nossos ídolos
Ainda são os mesmos E as aparências Não enganam não Você diz que depois deles Não apareceu mais ninguém Você pode até dizer Que eu tô por fora Ou então Que eu tô inventando...
Mas é você
Que ama o passado E que não vê É você Que ama o passado E que não vê Que o novo sempre vem...
Hoje eu sei
Que quem me deu a ideia De uma nova consciência E juventude Tá em casa Guardado por Deus Contando vil metal...
Minha dor é perceber
Que apesar de termos Feito tudo, tudo, Tudo o que fizemos Nós ainda somos Os mesmos e vivemos Ainda somos Os mesmos e vivemos Ainda somos Os mesmos e vivemos Como os nossos pais...
Composição: Belchior
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DÉCADAS-DENTES
1940
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1950
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1960
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1970
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- Ó, meu Deus, como eu era idiota. Acreditava nas falsas promessas dos líderes comunistas-socialistas, acreditava nos ecologistas, acreditava nos falsos amigos que se diziam preocupados com o povo e logo em seguida foram super-acumular. Vixe Maria, como o futuro se parece pouco com as promessas do passado! Poucos se mantêm fiéis a suas crenças!
Serra, segunda-feira, 12 de novembro de 2012.
José Augusto Gava
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