Guerroodu (da série Conto N'Ato)

Guerroodu

A Guerra-Voodu começou assim.

Uma pessoa qualquer (não importa quem, ela foi transformada em aro de bicicleta) colocou uma mensagem em jornal, um anúncio pequeninho, ameaçando outra, décadas atrás, com retaliações VUDU. Maior bafafá, abafaram o caso, até que esqueceram (não sem aquela mudança acima).

Mais de 35 anos depois algum idiota, usando a Internet fez circular outra ameaça, justamente na época do Google, do Hotmail, do Bol, do Yahoo, do Facebook e outras modalidades de feitiços sociais que prendem as pessoas.

VUDU SOCIAL

Sambudu.	O bom filho de santo à casa torna.
Saiba onde pisa.	Umbanda nas escolas.

Feitiço que amarra mesmo.

Brincadeira pra lá, brincadeira pra cá, no meio dos risos sempre acontece um desacerto, um desalinhamento, uma palavra mal falada e pior compreendida, um destempero, um escorregão e lá vai, fala-se o que não devia ser falado, saiu essa ameaça.

A coisa começou a espalhar.

Árvore do quintal de um que murchou sem explicação.

Cadeira de aço que derreteu.

Um atolou o pé no cimento, disseram que estava fresco, só se fosse depois de três anos.

VUDU

Vuducupuntura	Briga das crianças nas redondezas.
Não foi de propósito, as crianças se distraíram na mesa do restaurante.	Pro-bono: fazendo política.

O troço pegou!

Pegou feio!

Nessa época fui com a patroa para a Espanha, conhecer finalmente a Galícia, de que gosto muito, fui fazer o Caminho de Santiago de Compostela, foi emocionante, nós dois com mais de 55 subimos e descemos, andamos muito, mas era menos perigoso, procuramos a proteção dos santos.

A PROTEÇÃO DOS SANTOS

A tele-rede só por encomenda.	Vudu de quintal.
Vudu de carnaval.	Corrente de ano novo em favor de um congresso honesto, mas não há garantias de que vá dar certo; vamos abraçar o Brasil.

Quando voltamos já tinha amainado, mas algumas pessoas estavam sumidas, assim sem mais nem menos, ninguém deu queixa, os policiais ficaram rondando, perguntando “cadê fulano”, “cadê beltrana”? Não sei de nada. Só que alguns ficaram com a perna murcha, mas isso foi de erisipela ou então de poliomielite.

Serra, segunda-feira, 26 de novembro de 2012.

José Augusto Gava.