Sunday, July 17, 2016


Finja II: O Buraco Vai Mais Embaixo

 

Eram amigos, um físico, outro geólogo, seguiram adiante com a teoria de um terceiro amigo, leigo, sobre o que este chamara de Teoria das Flechas (cometas e meteoritos), algo bem extenso que eles aceitaram calcular nos detalhes.

OS DETALHES

1.       Ângulo de incidência, 90º vezes 60 minutos, 5,4 mil variáveis (não valia a pena segundo de carco, exagero);

2.       Isso multiplicado por 360 graus na horizontal porque há vários materiais embaixo:

3.      Densidade da flecha (as várias composições: condritos, acondritos, ferrosos, palasitos, mesosideritos, etc.);

4.      Temperatura da atmosfera (pode ser numa das quatro estações, toda longitude, latitude, altitude);

5.      Velocidade de entrada;

6.      Se em terra, na borda (misto) ou nos oceanos (essas quedas eram imensamente mais destrutivas);

7.      Dimensões (massa, forma, volume total);

8.      Se puxada de próximo da Terra (objetos NEAR) ou pelo Sol;

9.      Tipo de rocha da Terra;

10.   Os maremotos produzidos e seus tsunamis associados;

11.     Os tufões gigantescos criados;

12.    O movimento das placas tectônicas;

13.    A reverberação do solo profundo;

14.   Os vulcões em cadeia estourando no mundo, etc.

Na Lua foram contadas 30 mil crateras e comparativamente esperavam encontrar 400 mil na Terra, mas estudaram somente as duas mil maiores, não valeria a pena muitos detalhes, depois a comunidade trataria disso – além do que tomaria muito tempo, tinham de cuidar da precedência da apresentação.

Detalhes das quedas pregressas eles acrescentaram ao modelo.

Não seria um modelo detalhadíssimo, mas seria bem convincente.

Calcularam que seriam bem (5,4 mil x 360º x ...) umas 200 mil variáveis, vezes 2,0 mil crateras identificadas (para garantir a previsibilidade, a ciência é basicamente previsão – deu “em cima mesmo”, com variações dentro das margens aceitáveis, como apresentadas), seriam aí 400 milhões de filmes curtos.

Como os computadores da TUFES não comportariam tantas construções em 4D (3D + tempo) dos filmes curtos, eles pediram ajuda a Campinas, que remeteu a alguns supercomputadores mundiais para redundância, eles cifraram tudo a 128 bits e receberam as respostas, puderam ver na tela grande os efeitos passados, ficaram olhando pasmados, completamente entontecidos, mostraram ao tal terceiro amigo.

Seis meses depois eles se encontraram na praça pública muito movimentada, cada qual com um microfone, falando baixinho, com distorcedor de fala, não fosse alguém captar com microfone parabólico.

LEIGO – que vamos fazer?

GEÓLOGO – nada.

FÍSICO – se acontecer, pelo menos temos alguns anos.

GEÓLOGO – e as famílias?

FÍSICO – tá doido? Deixe que eles vivam em paz, estão felizes, deixe assim mesmo, quando cair a violência será tão tremenda que duraremos segundos.

LEIGO – com toda certeza eles vem calculando isso, devem estar construindo túneis, salvaguardas.

FÍSICO – com toda certeza.

GEÓLOGO – nunca nos aceitariam.

FÍSICO – é.

LEIGO – melhor é moitar.

FÍSICO – sim.

Perto dali estava tudo sendo gravado por um des-distorcedor de última geração.

Serra, sábado, 23 de janeiro de 2016.

GAVA.

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