Gronk
XIII: Farol de Milha
Mirante ficou conhecendo esse (não sei como,
nós nem chegamos perto da tribo dele, parece que ele é Uruquai, lá o consumo é
livre, qualquer um pode fumar na rua), não sei se foi por telebatia (“batia” de
longe, diz ele), o fato foi que esse doidão chegou até a gente, só que ele
“via” muito mais longe no tempo, daí o nome, a gente não entendeu nada, nem o
que era farol nem o que era milha, o Mirante disse que eram coisas que iriam
existir, uma daquelas doideiras dele. Ficaram grudadinhos no Gronk, mas o Gronk
não é chegado na coisa.
Para você ter uma ideia, o Farol de Milha
tinha os cabelos esticadões, assim para cima, parecia que tinha tomado um
choque, espetadões. Bom, ele que se dane, é dele, não é meu, se fosse de caçar
correndo nas trilhas iria ficar preso nos galhos, aí é que eu iria rir,
rá-rá-rá.
Pois esse zuretão, doidão, viradão, os oinho
arregalado, ficava fazendo umas bijuterias, as mulheres trocavam por coisas
delas, comida, ficaram emperiquitadas, umas madames mesmo, inclusive a minha,
que sou o escriba da turma, arranjei um jeito de guardar as memórias, estou
aperfeiçoando.
ZOIÚDO (que é como chamamos ele, as projeções
dele iam muito mais longe que as do Mirante) – e aê, gente boa (falava assim
mesmo), tá de boa? Que que manda, mermão? Vamo arrepiar, manos. O sol vai
explodir em cinco bilhões de anos.
MIRANTE – o quê? Você falou cinco milhões?
ZOIÚDO – não, cinco bilhões.
MIRANTE – ah, bom, você me deu um susto
danado.
Não entendi pôrra nenhuma, mas anotei de
qualquer jeito.
MIRANTE – é, ele fala assim mesmo.
ZOIÚDO – que que tu tá fazendo, mano Gronk?
GRONK (concentrado) – trouxe umas
fermentações das mulheres, elas notaram que os cultivos deixados nas vasilhas
produziram uns líquidos, tomaram, ficaram lelés, me falaram disso, estou vendo
se aprimoro.
MIRANTE – dá um pouco.
Tomou bastante, ficou alegrinho, saltitante.
BAN (como chefe ele prestava atenção em tudo)
– que é que se trata?
GRONK – uns fermentados das mulheres, tô
melhorando a aparência, vai querer?
Ban experimenta também.
BAN – essa bateu forte, se segura, peão,
desceu lascando, rasgando a goela, tô tonto.
ZOIÚDO (lembrando da piada) – não tô sentindo
nada.
MIRANTE – como assim? Você tomou três potes.
Fora as outras coisas, que eu sei, nem adianta negar.
ZOIÚDO – não tô sentindo as orelhas, não tô
sentindo as mãos, não tô sentindo as pernas, não tô sentindo o nariz.
NICAL (um dos pentelhinhos recém-agregados) –
posso dar uma talagada?
BAN – como assim? Você é menor de idade,
ainda vai fazer 14, vê se te manca, guri.
NICAL (conformado, guardando para um dia
fazer com outro boboquinha) – poxa, tio.
BAN – não sô seu tio, tio é a mãe, se me
chamar de velho outra vez nem vou bater eu mesmo, vou pedir a seu pai pra te
dar uma surra. Dá mais um pote aí, Gronk.
PATERMAL (tinha vindo de outra turma, levou
umas porradas, ficou por ali, foi incorporado, mostrou-se correto e
companheiro) – tô nessa, negada, manda ver.
Ele falava assim mesmo.
GRONK – não posso dar muito, ainda está em
teste.
Bom, o caso foi que todo mundo bebeu aquela
água que passarinho não bebia, ficou todo mundo pirado, inclusive eu, mais uma
vez não conseguimos pegar a grande proteína, voltamos, dormimos um dia antes da
caverna, caçamos algo de ressaca mesmo, umas antas, mas não foi a Dilma nem o Lula,
as mulheres até que não ficaram com muita raiva.
Nas caçadas seguintes o Gronk já tinha aperfeiçoado
muito, não conseguíamos caçar, fomos pescar (essa coisa fresca), encomendamos
material às mulheres, começamos a fabricar para vender.
Serra, quarta-feira, 20 de janeiro de 2016.
GAVA.
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