Gronk
XII: Gronk Pensa Principalmente em Velocidades Superiores
Já não ficavam pegando no pé do Gronk, pelo
contrário, adquiriam uma certa ternura por ele, ainda davam croques na cabeça
ou pescotapas ou petelecos nas orelhas, sem falar em “telefones”, mas tudo muito
carinhoso, entende? Até um pouco de admiração, esse idiota é de nossa tribo.
Gronk pensava, sempre com aquele ar aéreo, de
vez em quando um predador chegava perto, o pessoal espetava defendendo, ele nem
notava, a besta quadrada, achava que tinha sorte. Ou Mirante cutucava ele ou
puxava por um braço, “não vai por aí”, ele evitava cair num buraco ou duma
pirambeira, teve aquela em que mais adiante estava o bando de hienas
supergrosseiras se alimentando de carniça, Gronk ia diretamente pra lá. Tudo
hiena de cara feia, dentes arreganhados, até parece que não é de Jacaraípe.
Gronk ficava com aquele ar sonhador dele.
Claro, vivia do comércio das ideias, 17 anos
de proteção nas patentes, todo mundo que usava tinha de pagar um percentual.
A turma olhava de canto de olho: olha só o
animal! Não é que de dentro da cachola dele sai alguma coisa?
Vira e mexe, Gronk vinha com uma das dele.
GRONK – gente, estive pensando.
Todo mundo olhou, quisesse ou não quisesse,
olhou.
BAN (que agora ficava satisfeito do irmãozinho
ser apreciado na tribo, principalmente entre as mulheres, que faziam moquecas
capixabas para ele nas panelas de barro, pastelzinho de leite, camarões fritos,
a tampinha dele era consultada: “será que o Gronk pode pensar uma solução assim
e assada? ”) – pensou o quê?
GRONK – não sabem aquela manada que fica
passando ao longe?
TATU (em vez de viver na caverna geral como
todo mundo o idiota construíra uma tapagem lá fora, coberta com barro, chamava
de “casa”, pra que serve isso?) – também pensei.
BAN – ô Tatu, vá ver se eu fui pra Ibitirama.
MIRANTE – Tatu, posso adiantar procê que essa
ideia sua vai ser um sucesso mais lá pra frente, depois de Jericó, mas por
enquanto estamos ouvindo MEU AMIGO Gronk.
BAN – fala logo, Gronk, meu irmãozinho
querido.
GRONK – então, podemos pegar a corda de
embira que inventei, o laço que imaginei e jogar neles, prendemos,
domesticamos, montamos, eles são herbívoros, fiquei observando, não comem
carne, não vão nos comer, ainda são pequenos, podemos selecionar os maiores, vão
ficar cada vez mais altos, pernas altas, vão correr pra danar. Com os lobos que
domestiquei (vou chamar de “cães”), cada um num cavalo (vou chamar de “cavalo”),
com vários cães, podemos usar para caçar.
BAN – sei não, Gronk, como vamos nos manter
em cima? Vamos escorregar de um lado para o outro, cair de cabeça. E como vamos
conduzir?
GRONK – inventei umas coisas chamadas
“cabresto”, “sela”, “estribo”, vai dar certo.
O povo desdenhou.
Gargalhou.
Pura besteira.
Asneira das maiores.
Depois que o Gronk fez, uns três anos adiante
não é que funcionava mesmo? No começo foi difícil, alguém se ralou todo, mas
toda oportunidade começa como perigo.
OS
CAVALOS E OS CÃES DO GRONK
O desenho do Gronk, para facilitar a visão
da coisa.
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Gronk ensinando cães e cavalos a conversar,
a arte foi perdida. O cão é o da esquerda. À direita o cavalo do cão.
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Assim nasceu a TCC, Tribo do Cão-Cavalo, mas esta é outra história, também é
interessante.
Serra, terça-feira, 19 de janeiro de 2016.
GAVA.
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