Tuesday, July 19, 2016


Pastora XV: O Fim da Picada - Igreja Universal

 

Agora a pastora Eunice tinha 71, o garoto de 35 estava com 46, tinha “picado a mula”, uma mula que se fazia de ovelha, a égua, foi embora com ele, que levou o Mercedes cupê (ô mania de ter Mercedes, meu Deus, se bem que se pudesse ele teria levado o Bentley ou o Rolls Royce, não levou porque não encontrou as chaves, a pastora carregava na bolsa).

Muitos anos tinham se passado desde o passado sombrio e difícil da Tendinha dos Milagres, dissidência da Tenda dos Milagres, você se lembra, aqueles pastores capetas que iam lá desafiá-la e confrontá-la, tantas décadas atrás. Muitos tinham aderido, outros tinham morrido (bem feito, Deus castiga!), outros sentindo-se ameaçados pelo Martelo Sagrado tinham mudado de cidade ou de estado ou de país ou até de nome, não sei, não apareceram mais.

Você se lembra também que ela tinha mudado o nome para IEM (Igreja do Evangelho Monangular) e só fazia expandir até atingir o status de Galáctica, depois Aglomerada, depois, Superaglomerada, agora estava imensa, Igreja Universal, não aquela do bispo Macete, mas outra, esta outra realmente de Deus, Deus ria.

Os meninos homens tinham agora 51 e 49, eram pastores respeitosos, abandonaram as profissões universitárias que pagavam muito pouco, nem compensava, eram os chefes da congregação, bem-apessoados, pelo menos para isso serviu aquela tralha do marido, rapagões bonitos, as ovelhinhas ficavam “éééééé´”, mas eles eram casados, ela desaconselhava, mas homem, né, já viu, é tudo igual, as esposas eram compreensivas, nada que algumas viagens e algumas joias não compensassem.

E agora era o fim da picada.

Marido ela não tinha mais.

71, né? Ficava mais difícil.

Era o fim.

Depois da bariátrica e com as sucessivas operações plásticas ela estava irreconhecível, o pessoal chegava e perguntava “quem é essa? ”

Ficava lá, mirradinha, magrinha, sequinha, mas com o chapelão e os vestidos rodados de seda.

Até que um dia morreu e foi acertar as contas com Deus.

Foi muito pranteada, até por alguns daqueles pastores capetas que choravam desbragadamente (mas alguns foram pegos rindo).

Serra, sábado, 30 de janeiro de 2016.

GAVA.

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