Gronk
XIV: Petiscos
Se Gronk não era ainda o xodozinho a ponto de
escapar dos croques, dos pescotapas, dos pescoções, dos petelecos, dos
“telefones” (Mirante que deu esse nome para a brincadeirinha nossa, disse que
era uma coisa que ia existir, já nem duvido mais), dos socos amistosos, dos
cachações, dos tabefes, das bifas, pelo menos não era mais com raiva, era
amizade (não digo carinho, que isso não existe entre homens).
Uma rasteira aqui, um chute por trás do
joelho, uma tesoura, mas tudo na pura amizade, sem frescuragem, só na boa.
Gronk, da parte dele, continuava inventando
depois do cão, do cavalo, do laço, da padiola, dos fermentados que estávamos
exportando para as tribos vizinhas. Depois que a tribo dos Iracas e dos
Siriacas ameaçaram invadir a gente, segundo as notícias, nós invadimos eles
preventivamente, acabamos com eles. Bem, como é que eles sendo tão pequeninos
perante a nossa tribo tiveram essa ideia de nos invadir eu não sei, foi o que
rolou, parece que estavam preparando instrumentos de destruição em massa,
ficamos agitados e fomos lá testar as novas armas que o Gronk vinha inventando.
Depois de um pouco aliviado o pessoal até
passava perto do Gronk, punha a mão no ombro e apertava, no conhecido gesto
masculino de positivação, legal, companheiro, “legal, mas se você vacilar vai
levar porrada”, todo mundo sabe disso.
Bom, tudo isso para dizer que o Gronk veio
com mais uma das dele quando fomos caçar os javalis com aqueles dentões curvos,
são perigosíssimos, podem facilmente estripar um homem adulto parrudo, porisso
mandamos os jovens, apenas para testar a coragem deles, morreram quatro, todos
valentes, nesse dia, vou te contar, foi pesado, quase choramos por eles.
Matamos 10, foi bonito ver o pessoal correr e
subir nas árvores, correndo de porco, vê se pode, eles ficavam em baixo
arremetendo com os dentões curvos assim, se medisse dava mais de metro,
balançavam as árvores com as cabeçadas, depois disso nós rimos muito.
Foi nesse dia, depois do almoço, já de tarde
que Gronk abriu o sacolão dele para mais uma novidade, “petiscos” (Mirante que
falou, diz que no futuro – no passado não seria – muita gente vai viver de
vender “salgadinhos”, sei lá o que é isso, ele que disse). Sacolão assim, ó,
destamanho, não foi ele que trouxe, pegou dois infantes, dois idiotinhas todos
oferecidos e mais dois que foram substituindo, ficaram resmungando, mas foi só
dar um corretivo, num instante estavam cheios de boa vontade.
Bem, Gronk foi tirando e dando, era uma
talagada da água ardente e um petisco, outra talagada e outro petisco, as
hienas vieram sorrateiramente e levaram os porcos, os sacanas dos vigias caíram
na farra também, sobrou muita pancada.
Essa foi a outra vez em que dormimos perto da
caverna, caçamos um monte de preás, salgamos, falamos que tínhamos fatiado os
porcos, as mulheres não acreditaram, mas desde que o bando de crianças estava
alimentado elas não reclamaram. Os petiscos foram mais uma venda, estávamos
globalizando.
Serra, quarta-feira, 20 de janeiro de 2016.
GAVA.
No comments:
Post a Comment