Tuesday, July 19, 2016


Os Dias Estão Simplesmente Lotados

 

Watterson está certo.

CALVIN E SUA CONSCIÊNCIA FAVORÁVEL-PARTICIPATIVA HAROLDO

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Em vários lugares e tempos, nem tudo, ou fui andando de ônibus e colecionando.

O ônibus passou do ponto, a passageira com menino reclamou.
PASSAGEIRA – motorista, seu filho da puta, você não ouviu o sinal?
O motorista não disse nada.
PASSAGEIRA – você sabe quem eu sou, seu ordinário? (Entendi que era mulher de algum traficante da região).
Mãe com menino maior e menina pequena de colo.
MENINO (chegando a Serra sede) – mãe, aqui que é favela?
MÃE – favela é lá naquele lugar onde você mora. Você fala demais.
Mãe com bebê no colo, homem alto, filho de uns nove anos. O menino fala alguma coisa com a mãe, pai não gosta.
PAI – se você falar de novo vou te dar uma rasteira, você vai cair de cara no chão.
Supermercados Perim de Morada de Camburi.
AVÓ (com menina no colo) – você vai querer levar umas porradinhas?
Supermercado Extrabom de Jacaraípe.
PAI (furioso com o menino de uns oito anos) – tá bem, vou comprar essa porra desse carrinho, mas se você estragar vou enfiar a mão na sua cara.
Quando eu tinha uns 48, no terminal de Carapina.
RAPAZ – então venho eu lá da roça, 35 anos de pedreira, pra uma lagartixa urbana tirar sarro de mim?
Um para outro.
UM – e aí, seu irmão?
OUTRO – o Josué? Ele anda aprontando, mãe tá brava.
UM – ela é braba?
OUTRO – braba? Ela tá preparando o cabo de vassoura para ele.
ENI (trocadora, apontando para fora) – aquele cara lá é peixeiro, ele tá a fim de você.
RAQUEL (motorista, elas conversavam 35 minutos da viagem, era divertido) – qual?
ENI – aquele lá, ele tem uma peixeira enorme, quer te dar uma punhalada.
Uns 25 anos já, sempre esqueço os nomes, invento outros.
UM – como é que você tá?
OUTRO – legal. E no mais?
UM – lembra do Ricardo?
OUTRO – nãããoooo. Qual Ricardo?
UM – o Ricardo da dona Carlota.
OUTRO – não tô lembrado.
O outro foi explicando até cair a ficha.
UM – o cara tava comendo a mulher dele, ele foi tomar satisfação, o cara cobriu ele de porrada.
Os dois riam.
O sujeito magrelo esmolambado estava com uma camisa Be a Genius e foi incomodando os passageiros (apesar da proibição legal) com som a toda altura, o radinho de pilha colado no ouvido, os 35 minutos da viagem batendo com a cabeça na janela de vidro na cadeira dos fundos, à direita.
A moça com uma criança de colo e outra andando entrou, perto da porta do meio estavam sentadas duas, uma fez gesto de levantar, a mãe indicou com o queixo “vou precisar da outra também”, a outra moça levantou.
Certa vez a mulher gorda que sozinha tomaria duas cadeiras sentou na da direita, colocou a bundona em cima dos meus quadris, tentei não respirar, fui assim.

Os dias estão completamente lotados.

Só é preciso andar com o caderninho ou ter a memória mais afiada que a minha, a lista é grande.

Serra, sexta-feira, 05 de fevereiro de 2016.

GAVA.

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