Gronk VII: Gronk Leva
Flores
Tam, que saiu do
turno de guarda dele e com isso prejudicou o grupo foi retirado da função e
promovido a olheiro do Gronk, ficava exclusivamente por conta disso, não tinha
mais nada a fazer, a tribo não só perdeu a manada como foi atacada por um
Dentão (o tigre dente-de-sabre na intimidade), que abocanhou dois, pena que não
pegou o Tam, ele subiu numa palmeira bem alta, isso ele sabe fazer, o bosta.
Tam ficava por ali,
esperando as atitudes do Gronk, que estava mais quieto, calado mesmo depois da
seção ternura da tribo em que ele foi de maca, tá lembrado? Na realidade foi
uma padiola, puxada por dois, ela ia batendo um pouco nos buracos, o pessoal
fazia o que podia para ajudar nisso, quicava um pouco, não vou negar, o Gronk gemia,
nem parecia homem, trancava os dentes, chegou a trincar um, ele tentou
aguentar, o pessoal se esforçava ao máximo para piorar as condições de
transito, mas teve um momento em que parecia que ele estava mal mesmo, as
mulheres iriam perguntar, o grupo deve de pegar em quatro, foi quando a maca
foi inventada, logo a seguir à invenção da padiola.
Tam ficou olhando as
bobagens do Gronk, que era irmão do chefe, nada a reclamar enquanto o Ban fosse
chefe, é claro, não que o Ban morresse de amores pelo irmão mais novo, 17 anos
de diferença, não, de jeito nenhum, de vez em quando ele confraternizava com os
amigos quando surgia a oportunidade de dar uns sopapos, essa história também é
interessante.
Tam ficava olhando e rindo.
E assim passou o
período todo, dessa vez sem o Gronk colocar obstáculos, eles conseguiram muita
proteína grande, três meses, se as mulheres juntassem aquelas folhagens delas,
mais as raízes e tudo, seis meses, uma folga grande, menor risco de morte.
Na hora de sair Gronk
começou a pegar mato.
TAM- que cocô é esse,
Gronk?
GRONK – você não tem
nada com isso, estou levando para as mulheres, vi que elas colhem em volta do
terreirão para alegrar a caverna, estou imitando.
TAM – endoidou? Que
bosta é essa? Vai levar esse mato esses quilômetros todos? Elas já não têm lá?
GRONK – é um mimo, um
agrado por tudo que elas fazem por nós.
TAM – endoidou? Esse
é o trabalho delas, agradar a gente.
GRONK – não é, não, a
gente tem de ser companheiro.
TAM – endoidou? Que
titica é essa de companheiro? Eu, hem?
Ele estava doidinho
para entregar o Gronk, entregou. Gritou, chamou a atenção do Ban, que estava
junto da rapaziada arrumando as carnes secas nas peles para carregar nas
costas, ainda não tinham inventado a roda, embora Mirante, o visionário do
grupo, já tivesse anunciado “uma coisa redonda”, ao que o pessoal perguntava
“que coisa redonda é essa, seu idiota? ” Só que o Mirante não sabia dizer bem o
que seria, mais para a frente os descendentes dele iriam dizer que nunca mais
haveria crises econômicas, embora elas acontecessem há 800 anos quando isso foi
dito.
MIRANTE (se metendo,
o crápula aproveitador, queria trabalhar não, só ficava fazendo cena, como
Azevinho) – isso vai ser muito considerado no futuro, vai surgir todo um ramo
chamado Matocultura que vai fazer muito dinheiro com as flores.
BAN (chegando
cauteloso para mais um enfrentamento com o Gronk, seu dileto irmão que um dia
eles conseguiriam empurrar na pirambeira sem parecer necessidade) – Mirante,
cale a boca, pôrra, vá lá cheirar aquelas coisas suas. Que foi, Tam?
TAM – sei não, o
Gronk tá juntando mato.
GRONK – não é mato,
são flores.
BAN – e por quê você
está juntando flores? Não tem um monte dessas porcarias lá em volta da caverna?
GRONK – as mulheres
gostam de atenção.
BAN (virando-se para
os outros) – cês sabem alguma coisa disso?
TUOR (falando em nome
dos outros) – nunca ouvimos falar, para nós é novidade, né, turma?
TODOS – sim.
BAN (cansado e
injuriado) – então, Gronk? Que cagada nova é essa?
GRONK – não é cagada
(só ele falava assim, desdizendo o chefe), a vida das mulheres é muito sofrida.
BAN (reunindo as
forças para não explodir, parecia que ele doutrinava o irmão demais, para
mostrar que não tinha preferência, porque não tinha mesmo, mas a imagem social
é tudo) – Gronk, TODO MUNDO (fora o Mirante e outros safados) trabalha muito,
isso é a pré-história, né, TODO MUNDO SOFRE.
Gronk – sim, mas a
vida delas é cíclica, não para nunca.
Começou um bate boca
do caralho, até que convenceram Ban de deixar pra lá, Gronk nem se furtava ao
trabalho, “deixe ele com as doideiras dele, ele tem um parafuso a menos”.
E foram, com aqueles
pesos enormes nas costas, Gronk também, até porque o compensaram colocando um
pouco a mais, com tudo isso ele foi levando as flores, que chegaram lá meio
murchas, sebentas, desfolhadas, quase sem cheiro.
E as mulheres?
MULHERES – ó, Gronk,
querido, você lembrou de nós.
A mulher dele era a
mais melequenta.
Elas cercaram ele,
que foi paparicado, porçõezinhas melhores, dengos, chamegos, festas, bebidas
que elas inventaram com fermentação dos grãos, etc., etc., etc., cacete,
ninguém entende isso.
Na próxima os homens
todos levaram flores.
Pôrra, não é que de
vez em quando o idiota acerta?
Serra, terça-feira,
12 de janeiro de 2016.
GAVA.
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