Gronk XVIII: A Desoladora Morte de Gronk

 

Um pouco antes morreu o Mirante, Gronk ficou acabado, desconsolado, totalmente desnorteado, era o Mirante que falava aquelas bobagens sobre o futuro, como a economia iria se desenvolver, trazendo progresso para todos, as taxas de crescimento, a necessidade de um banco central, as coisas que seriam inventadas para facilitar a vida de todos (ele foi também o primeiro na ficção científica, embora eu sempre diga que quem faz ficção científica são os cientistas). Gronk ficou tão mal que ele estava mais ou menos assim como um de nós, para você ver, não conseguia pensar, não inventava nada.

Para resumir a coisa, a aldeia muito expandida ficou abatida durante dias, até o Gronk melhorar, aí as pessoas tiveram alegria em dobro, porque a capacidade dele de criar era um espanto mesmo, ele até inventou os tipos móveis, que eram uns garotos que eu mandava buscar notícia para o diário da tribo.

Nem quero falar nisso, mas vou ser obrigado.

Quando Gronk tinha 59 anos, ele morreu.

As mulheres jogavam terra na cabeça, querendo dizer que tinham morrido (não foram só as 34 dele, não, foram MUITAS, achei que aí tinha, estavam aparecendo uns garotos muito sabidos e garotas muito espertas, eu achava até que os maridos mandavam as esposas “para melhorar a raça”, diziam); rasgavam a roupas, querendo dizer que não pertenciam mais à coletividade; se lenhavam com espinhos, querendo dizer que não queriam mais ser bonitas, vê se pode! Então quem vai ser, os homens?

Bem, foi uma choradeira que deu dó.

A vizinhança, vendo nossa prostração, arrepiou, “não queria mais o jugo”, disseram, e nós replicando “nosso domínio é leve” descemos o cacete. Por terem ousado se revoltar em nosso momento de dor descemos o dobro (para alguns o triplo ou o quádruplo), aí eles choraram conosco, mostrando o devido respeito, foi bom, aliviou as mágoas.

Aqui pra nós, eu também chorei, uns três dias.

O Gronk só fazia enriquecer, encostei nele, enriquei também, não tanto quanto ele, com aquelas 34 e mais de 200 filhos e filhas, mas fiquei no encosto. Chorei escondido, claro, iria deixar ver?

Ficamos assim uns três meses.

Chocados, abatidíssimos.

Estávamos aflitos, aflitos.

Então fizemos uma reunião para eleger o filho de Gronk, o mais velho, que pegou o escalpo do pai e colocou na cabeça, para significar a presença dele.

Bom, quando melhoramos nos lembramos dos otários que quiseram atacar a gente e fomos lá dar um cacete neles de novo, duas vezes, três vezes, você sabe, é graduado.

Isso melhorou o humor um pouco.

Com seis meses Gronk Segundo assumiu o comando e começou a pensar, não igual ao pai, para isso criou um grupo de trabalho que se não produzia quase nada, mas pelo menos ria muito e deixava os outros encucados: o que eles estão fazendo lá? Eu fazia as atas, ficava enchendo linguiça.

Serra, sábado, 30 de janeiro de 2016.

GAVA.