Pastora VI: Zezão e
Daliula
O templo (porque não
é igreja, igreja é só a da Igreja, só existe uma, a estabelecida por Jesus) da
pastora Eunice estava repleto, o pessoal queria ver o circo pegar fogo para
ajudar jogando um pouco de gasolina. Os capetas (os pastores nojentos, não
finja que não sabe) tinham vindo, uns para aderir à nova vertente da tosquia,
outros para zombar ou criticar, o jeito era jogar lenha.
A pastora,
tranquilona no púlpito, ela dizia que era o palanque de Deus, vá saber se Deus
entra na política! Estava usando um chapelão, o povo gostava da irreverência
dela, da doideira, zuretona, mas pelo menos inovava, era uma gritaria maior que
a comum dos evangélicos, mas quando ela começava calavam a boca, que ela tinha
uma tala na mão, batia mesmo.
O templo agora era
dissidente da Tendinha dos Milagres, você se lembra, era IEB Internacional (só
tinha um templo, mas a expectativa era grande, nunca é bom descer, sempre
pensar em subir), a Igreja do Evangelho Binangular, o povo estava feliz, porque
ficava antes da Igreja do Evangelho Quadrangular, ela estava pensando em
registrar como IEM, Igreja do Evangelho Monangular, ainda estava em discussão
com os filhos, ela dizendo, “mas, queridos, ninguém sabe o que é monangular”,
ao que eles diziam “porque a palavra não existe, é monocular”, só que ela não
perdia uma – o inútil galinha do marido não opinava em nada.
E lá estava ela,
chapelão, vestidão rodado que ela fazia questão de espalhar, para graça de
todos os ouvintes e videntes, os que veem.
PASTORA – e lá
estavam Zezão e Daliula...
PASTOR NOJENTO –
pastora, dá licença de um aparte?
PASTORA – dô não.
PASTOR NOJENTO
ATREVIDO – pastora, não é Zezão e Daliula, é Sansão e Dalila, TODO MUNDO SABE,
Sansão e Dalila, a queixada, os filisteus, o corte do cabelo, há filme, o povo
conhece, não adianta a senhora torcer.
PASTORA (que era
míope e usava óculos só de metades, olhou por cima porque parecia mais esperto)
– tô torcendo nada.
PASTOR NOJENTO
ATREVIDO IMPERTINENTE – tá, sim, tá dizendo de um jeito, sabendo-se que é de
outro.
SANSÃO E DALILA
Trabalhador até que ele era.
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Casalzinho, não era bonito assim?
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Ficava mostrando o peitoral pras
periguetes.
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Ela cortou o barato dele.
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PASTORA – eu, não. A
Daliula é minha prima, filha da irmã da minha mãe, titia foi registrar o nome
dela, o idiota do escrevente não entendia americano, escreveu desse jeito.
Nisso que dá tratar com IGNORANTES (e apontou o PNAI com o queixo, todo mundo
entendeu e aprovou).
O PNAI sentou-se, o
pessoal já tinha ocupado o lugar dele, ele sentou no colo, foi obrigado a sair
resmunando muito e dizendo palavrões na casa de Deus, Deus iria pegar ele e
botar ele naquele cantinho especial no inferno, onde ficam os bares com cerveja
quente e comida passada que dá diarreia.
PASTORA – então,
gente, COMO ESTAVA FALANDO ANTES DE CERTA PESSOA ME INTERROPER (cuspiu), o
Zezão tinha um cabelão assim nos ombros, bonito, cacheado, tinha um corpão todo
tatuado, bem, uns brinquinhos nas orelhas, Daliula deixou, não vou dizer nada,
se o inútil do meu marido quiser colocar vou dar uma surra de marmelo nele
(olhou duro para o dito cujo), o Zezão era um tipão de homem, 1,90 m (as
ovelhas começaram a salivar e passar a língua nos lábios, esquentamento danado),
vivia sendo corujado pela garotada da vizinhanças, as periguetes safadas
(várias ovelhas baixaram a cabeça), a Daliula só de olho, só bizoiando, só
cubando, mirando as beiçudas pelos canto dos zóios, ah, é, né? Vou dar um jeito
nessa festa, suas safadas, vocês vão ver só. Foi daí que ela cortou os cabelos
dele, ele ficou murchinho que só ele (mesmo sendo religiosa ela mandou rezar no
bruxo, não aprovei nadica, mas bem feito), ordinário, perdeu a força, ficou
quase careca, ela deu um aperitivo pra ele (piscou), ele dormiu de roncar, ela
tosou ele, tudo torto, ele teve de ir no barbeiro, danou-se todo e foi isso.
Tomou? Marido infiel a gente trata assim (e olhou de novo para o marido).
Serra, quinta-feira,
21 de janeiro de 2016.
GAVA.
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