Gronk XI: Ao Mirante
Como ficou dito, o
Mirante tinha aquilo de revirar os olhinhos, era um precursor, vivia drogado,
até mais que os de agora, e tinha “visões”, ele se convencia de que aquilo que
pensava ia acontecer e como seria décadas, séculos e até milênios depois,
ninguém poderia conferir, não era ciência, não tinha poder preditivo. Se bem
que, algumas vezes, assim num tempo mais curtinho ele acertava mesmo, era até
esquisito, dava tremedeira na gente ficar olhando aquele pulha acertar uma e
outra.
Claro, depois que o
Mirante salvou a pele do Gronk VÁRIAS vezes (Quem é que está contando? Exceto
para cobrar um ou outro favor, quem é que conta essas coisas?), eles ficaram
amiguinhos, talvez também por serem alvos das brincadeiras inocentes um pouco
pesadas dos demais, até os novatos queriam entrar nessa, levaram socos no pau
do nariz, alguns quebraram, até foi bom, porque podiam mostrar para as
mulheres, alegando confrontos duríssimos com as terríveis feras (não deixavam
de ser, sabe como é, seres humanos).
Para agradecer ao
amigo os vários avisos recebidos – inclusive aquela vez em que ele disse “não
vai por aí, não, tem uns esperando com porretes” – Gronk desejou fazer uma
comemoração, o Guerreiro do Mês (ao que Mirante disse: “no futuro vão se
aproveitar dos trabalhadores com isso”, mas foi coisa a que ninguém prestou
atenção, inclusive o Gronk, foi tipo assim um devaneio; as pessoas de bem não
falavam “tipo assim”, porém em cima o Mirante adiantou – “um dia vão falar”).
TANEU (contrapondo
imediatamente) – não, Gronk, nem pensar.
TURIM (filho do
precedente, mais idiota ainda, se possível) – de jeito nenhum.
TANEU – cale a boca,
você é novato, vá limpar as privadas.
TUOR (só pra provocar
Taneu) – não implica com ele, pode falar, Gronk, eu garanto seu irmão. Como é
isso?
GRONK (se sentindo
valorizado) – então. A gente elege um, agora é o Mirante, o primeirão, o
inicial, o original, depois serão outros, um por mês, a gente tira uma
fotografia.
BAN (vendo o
aglomerado e se aproximando) – que é fotografia?
MIRANTE (fixando o
Gronk duramente) – nada, não, é uma coisa que vai existir.
BAN (muito
acertadamente, de vez em quando ele acertava) – se não existe, como vamos
utilizar?
GRONK – ah, é. Ou
então a gente em roda olha fixamente para ele, pronto, durante o próximo mês
ele vai ser o maioral, todo mundo vai olhar para ele com ódio, puxa-saco de
patrão.
REAGAN – abaixo o
estado.
THATCHER – o que é
isso de sociedade?
BAN (olhando ao redor
desconfiado) – ó, os que já morreram não falam não, é a regra, só fala através
de médium. Gronk, explica isso.
Não era mais como
antigamente, que o Gronk era completamente desprezado. Depois que as ideias dele
funcionaram e as patentes foram registradas, tinham começado a dar algum valor
a ele, as aldeias vizinhas vinham pagando para usar as coisas que ele tinha
inventado, virou uma espécie de heroizinho, principalmente para as mulheres,
que podiam usar para trocar por bijuterias, joias, ouro, diamantes, de
preferência diamantes, diamantes são para sempre, Lucy in the sky with
diamonds.
GRONK (explicando) –
então (ele gostava muito de falar assim, “caralho, então o quê? ”, como se
fosse dar uma explicação valiosíssima; ficou satisfeitíssimo com todo mundo
prestando atenção nele). Escolhemos um, aquele é o herói do mês, ele trabalha
em dobro, as pessoas que o odeiam podem odiar justificadamente, ele fica feliz,
para de reclamar aumento, para de chegar tarde, carrega tudo com satisfação...
O pessoal pegou o
espírito da coisa, principalmente a parte que dizia respeito a descarregar no
fulano um monte de tarefas.
BAN (pensando nos 63
sobre suas ordens, se fosse dar a volta demoraria a chegar nele, que poderia se
colocar no final da fila; cauteloso:) – chefe também tem de fazer?
GRONK (percebendo a
coisa) – não, chefe não, porque chefe já está em evidência mesmo, todos olham
para ele todo mês, bajulam, etc.
BAN (pegando a deixa
de que não teria de ser esforçar em dobro) – acho bom, parece legal, vamos
adotar, primeiro o Mirante. Ao Mirante, gente! (e levantou a lança com pedra na
ponta, invenção do Gronk).
Levantaram o Mirante,
com isso de ficar festejando em vez de caçar a manada de gnus se mandou, foi
embora, eles só caçaram coelhos e bichos pequenos, as mulheres ficaram brabas,
menos com o Mirante, que ajudava nas pesquisas dos trabalhos sondando o que os
professores estavam esperando e, é claro, o Gronk, sempre cheio de novidades e
agrados. Elas adotaram a medida na caverna, de onde se espalhou nas
vizinhanças, chegando à McCaverna.
Serra, terça-feira,
19 de janeiro de 2016.
GAVA.
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