Gronk IX: A Invenção
do Laço
Com o passar dos
anos, Gronk começou a ser mais aceito pela turma, não é que para alguma coisa
ele servia? MUITO a contragosto o pessoal se pegava dando umas olhadas furtivas
para ele, que nem reparava, como os MERDS ele ficava na dele, pensando,
enquanto os músculos cresciam ao redor. Ele exercitava os neurônios, levava
para a academia, eles ficavam com axônios de tanquinho.
MIRANTE (o débil
mental tinha visões, as mulheres viviam pedindo para ele ver o futuro, ele até
ganhava um troco, uns pedaços de carne-seca, uma pele melhorzinha, os homens só
não podiam saber, até tinham bolsos internos, uma invenção bem recente delas) –
Gronk, você poderia colocar uma pontocom...
GRONK – que vem a ser
isso?
MIRANTE – ainda não
é, mas será (fechando os olhos) daqui a algum tempo, se bem que depois vão
falir e deixar muita gente no “ora, veja”, se eu estivesse lá falaria pra eles,
mas vou morrer com 55 de picada de cobra.
GRONK – Mirante, fala
baixo, o pessoal pode ouvir.
PESSOAL (que estava
de butuca, com as antenas ligadas) – que que é?
GRONK – nada, não,
Pego (porque ele vivia roubando, o safado, mas era bom caçador, o pessoal
perdoava, além do que os tapões eram divertidos à bessa).
PEGO (tentando
desviar o tapão para outro) – como, nada? Se fosse nada vocês não estariam no buchicho.
Ô Ban, seu irmão tá fazendo merda de novo.
BAN (aproveitando
para dar de passagem um tapão no Pego) – para de entregar os outros! Que é
dessa vez, Gronk?
GRONK (olhando feio
pro Pego) – depois conversamos. É o seguinte, chamei de “laço”, tá vendo, vou
amarrando as embiras - enroladas para ficarem mais resistentes – umas nas
outras, faço uma grandona, dou essa volta na ponta...
MIRANTE (solidário
com Gronk) – um mamute vai pisar nele daqui a três anos.
GRONK (virando pro
Mirante) – obrigado, Mirante.
OUTRO – é, Gronk,
explica essa titica pra gente.
GRONK – cale a boca,
Berot, você chegou ontem, nem tem 16 ainda.
BEROT – falo se
quiser, você não tem nada com isso.
BAN (dando um tapão
no Berot) – cala a boca, seu idiota, deixe os adultos falarem.
TUOR – ele tá
atrapalhando, Ban? Vou mandar esse pentelho de volta pra minha irmã.
BEROT – não, tio.
BAN - chega de tanta
conversa, fala logo, Gronk.
GRONK (aliviado por
poder mostrar sua invenção) – então, a gente enrola a embira comprida, que
chamei de “corda” e joga, o laço fecha em volta do pescoço do bisão, a gente
puxa, aperta, está seguro.
MIRANTE (de olhos
fechados, sonhando, vivia tomando chá de cogumelo) – vai ter um troço chamado
patente.
Todo mundo ficou
rindo em volta, gargalhando, alguns tiveram até acesso, o cara do lado
aproveitava para dar um tapão justificado nas costas. Uns rolaram de rir, foi
preciso mais firmeza, dar um chute nas costelas.
BAN (a muito custo se
recuperando, arfando) – puta que o pariu! É demais. E pra que serve essa merda?
Você vai ser amiguinho dos búfalos? Eles vão te arrastar, seu animal.
Gronk explicou que
faria várias cordas, todos jogariam de diferentes direções, mesmo sentido, ele
disse, tinha espírito matemático, não confundia direção e sentido como certas
pessoas, o bicho ficaria imobilizado, era só questão de treinar e coordenar.
Não é que o filho da
puta tinha razão? Melhorou demais, puderam caçar MUITO MAIS da grande proteína,
as mulheres iriam ficar doidonas, muito futuro, muitos filhos projetados,
felicidade.
O pessoal ficava
olhando de banda pro Gronk, essa égua tem alguma coisa nos miolo, até deram uns
tapinhas nas grandes omoplatas do Ban, ele não falou nada, mas ficou até
satisfeito.
Na volta as mulheres
pulavam de alegria, lá foi o Gronk com aquela tampinha dele, merda, esse animal
tem muitos filhos, daqui a pouco vai tomar a tribo toda. Ele dizia que era
fiel, mas tinha muita garotinha se aproximando dele e aparecendo grávida.
Serra, segunda-feira,
18 de janeiro de 2016.
GAVA.
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