Saturday, July 16, 2016


Gronk IX: A Invenção do Laço

 

Com o passar dos anos, Gronk começou a ser mais aceito pela turma, não é que para alguma coisa ele servia? MUITO a contragosto o pessoal se pegava dando umas olhadas furtivas para ele, que nem reparava, como os MERDS ele ficava na dele, pensando, enquanto os músculos cresciam ao redor. Ele exercitava os neurônios, levava para a academia, eles ficavam com axônios de tanquinho.

MIRANTE (o débil mental tinha visões, as mulheres viviam pedindo para ele ver o futuro, ele até ganhava um troco, uns pedaços de carne-seca, uma pele melhorzinha, os homens só não podiam saber, até tinham bolsos internos, uma invenção bem recente delas) – Gronk, você poderia colocar uma pontocom...

GRONK – que vem a ser isso?

MIRANTE – ainda não é, mas será (fechando os olhos) daqui a algum tempo, se bem que depois vão falir e deixar muita gente no “ora, veja”, se eu estivesse lá falaria pra eles, mas vou morrer com 55 de picada de cobra.

GRONK – Mirante, fala baixo, o pessoal pode ouvir.

PESSOAL (que estava de butuca, com as antenas ligadas) – que que é?

GRONK – nada, não, Pego (porque ele vivia roubando, o safado, mas era bom caçador, o pessoal perdoava, além do que os tapões eram divertidos à bessa).

PEGO (tentando desviar o tapão para outro) – como, nada? Se fosse nada vocês não estariam no buchicho. Ô Ban, seu irmão tá fazendo merda de novo.

BAN (aproveitando para dar de passagem um tapão no Pego) – para de entregar os outros! Que é dessa vez, Gronk?

GRONK (olhando feio pro Pego) – depois conversamos. É o seguinte, chamei de “laço”, tá vendo, vou amarrando as embiras - enroladas para ficarem mais resistentes – umas nas outras, faço uma grandona, dou essa volta na ponta...

MIRANTE (solidário com Gronk) – um mamute vai pisar nele daqui a três anos.

GRONK (virando pro Mirante) – obrigado, Mirante.

OUTRO – é, Gronk, explica essa titica pra gente.

GRONK – cale a boca, Berot, você chegou ontem, nem tem 16 ainda.

BEROT – falo se quiser, você não tem nada com isso.

BAN (dando um tapão no Berot) – cala a boca, seu idiota, deixe os adultos falarem.

TUOR – ele tá atrapalhando, Ban? Vou mandar esse pentelho de volta pra minha irmã.

BEROT – não, tio.

BAN - chega de tanta conversa, fala logo, Gronk.

GRONK (aliviado por poder mostrar sua invenção) – então, a gente enrola a embira comprida, que chamei de “corda” e joga, o laço fecha em volta do pescoço do bisão, a gente puxa, aperta, está seguro.

MIRANTE (de olhos fechados, sonhando, vivia tomando chá de cogumelo) – vai ter um troço chamado patente.

Todo mundo ficou rindo em volta, gargalhando, alguns tiveram até acesso, o cara do lado aproveitava para dar um tapão justificado nas costas. Uns rolaram de rir, foi preciso mais firmeza, dar um chute nas costelas.

BAN (a muito custo se recuperando, arfando) – puta que o pariu! É demais. E pra que serve essa merda? Você vai ser amiguinho dos búfalos? Eles vão te arrastar, seu animal.

Gronk explicou que faria várias cordas, todos jogariam de diferentes direções, mesmo sentido, ele disse, tinha espírito matemático, não confundia direção e sentido como certas pessoas, o bicho ficaria imobilizado, era só questão de treinar e coordenar.

Não é que o filho da puta tinha razão? Melhorou demais, puderam caçar MUITO MAIS da grande proteína, as mulheres iriam ficar doidonas, muito futuro, muitos filhos projetados, felicidade.

O pessoal ficava olhando de banda pro Gronk, essa égua tem alguma coisa nos miolo, até deram uns tapinhas nas grandes omoplatas do Ban, ele não falou nada, mas ficou até satisfeito.

Na volta as mulheres pulavam de alegria, lá foi o Gronk com aquela tampinha dele, merda, esse animal tem muitos filhos, daqui a pouco vai tomar a tribo toda. Ele dizia que era fiel, mas tinha muita garotinha se aproximando dele e aparecendo grávida.

Serra, segunda-feira, 18 de janeiro de 2016.

GAVA.

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