Novato nos Negócios
Nós temos um clube.
Não BEM UM CLUBE, é
um bar, a gente que chama de clube porque vamos lá sempre os mesmos, somos
empresários, combinamos com o dono, ele cobra mais caro para pobre não ir, uns
50 % a mais, depois ele dá desconto, só para afastar a arraia miúda que enche o
saco, pobre esparrama mesmo, faz bagunça, os garçons não conseguem atender
depressa, aquele monte de gente, crianças berrando e correndo em volta,
mulheres gritando com os filhos, parece festa domingueira.
Ah, não, sai pra lá.
O Dicró (nós que
apelidamos, ele vive falando mal da sogra, que é a cozinheira do bar, vê só se
pode, a velha ri, a filha ri mais ainda, ele ama a sogra, é um palhaço) é o
dono. Os preços tão na tabela, lá no alto, mas depois do desconto fica só 10 %
mais alto, é o que pagamos para ter reserva. A casa lota, tá sempre cheia de
empresários.
E lá estamos nós, só
empresários, lembre-se, bebendo nosso uisquinho 12 ou 18 anos, nossa cachacinha
especial, nossas bebidas preferidas, os melhores tira-gostos, dá até prazer
explorar o povo e sonegar os tributos, quando esse cara que ninguém conhecia
começou a falar alto na mesa ao lado, parei para ouvir, tanta bobagem! Os
tira-gostos, vou te contar, não são coisas elegantes assim, não, pois muitos de
nós tiveram começo modesto, quase populares, não que a gente faça questão de
lembrar, mas o gosto fica, farofa boa, feijoada no potinho, vaca atolada,
costeleta frita de porco, carrê com limão, escudiguim, moqueca de rã com
polenta mole, rã frita, coisas assim.
Tô só ouvindo.
Parecia um popular.
Me benzi, afasta, meu
Pai.
SUJEITINHO – não, a
questão é que quero pagar todos os impostos, não quero nada do governo, detesto
o governo. Quero tudo limpo. Além disso, não sonegar vai endurecer minhas
posturas, nada de facilidades, nem deixar de depositar os direitos dos
trabalhadores, nada de roubar no peso (e foi enumerando todas as coisas que ele
não faria).
Puxei a gola do
Samuel.
EU – Samuca, meu
filho, você que trouxe ele?
SAMUCA (emburrado) –
tá doido?!
Nós fomos lá por trás
e ajeitamos o Cubo (porque ele é um pescador das redondezas que é, como dizem,
2 por 2 por 2, um monstro, um absurdo de pessoa, um escândalo da Natureza, a
mãe deve ter morrido no parto ou o marido divorciou logo depois) para ir lá e
caçar briga com ele.
Às vezes ele vem, vê
o Cubo e vai embora, fica no bar vizinho. Estamos pagando um salário mínimo pro
Cubo ficar por ali, ele finge que varre o lugar.
Serra, quarta-feira,
27 de janeiro de 2016.
GAVA.
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