Tuesday, July 19, 2016


Novato nos Negócios

 

Nós temos um clube.

Não BEM UM CLUBE, é um bar, a gente que chama de clube porque vamos lá sempre os mesmos, somos empresários, combinamos com o dono, ele cobra mais caro para pobre não ir, uns 50 % a mais, depois ele dá desconto, só para afastar a arraia miúda que enche o saco, pobre esparrama mesmo, faz bagunça, os garçons não conseguem atender depressa, aquele monte de gente, crianças berrando e correndo em volta, mulheres gritando com os filhos, parece festa domingueira.

Ah, não, sai pra lá.

O Dicró (nós que apelidamos, ele vive falando mal da sogra, que é a cozinheira do bar, vê só se pode, a velha ri, a filha ri mais ainda, ele ama a sogra, é um palhaço) é o dono. Os preços tão na tabela, lá no alto, mas depois do desconto fica só 10 % mais alto, é o que pagamos para ter reserva. A casa lota, tá sempre cheia de empresários.

E lá estamos nós, só empresários, lembre-se, bebendo nosso uisquinho 12 ou 18 anos, nossa cachacinha especial, nossas bebidas preferidas, os melhores tira-gostos, dá até prazer explorar o povo e sonegar os tributos, quando esse cara que ninguém conhecia começou a falar alto na mesa ao lado, parei para ouvir, tanta bobagem! Os tira-gostos, vou te contar, não são coisas elegantes assim, não, pois muitos de nós tiveram começo modesto, quase populares, não que a gente faça questão de lembrar, mas o gosto fica, farofa boa, feijoada no potinho, vaca atolada, costeleta frita de porco, carrê com limão, escudiguim, moqueca de rã com polenta mole, rã frita, coisas assim.

Tô só ouvindo.

Parecia um popular.

Me benzi, afasta, meu Pai.

SUJEITINHO – não, a questão é que quero pagar todos os impostos, não quero nada do governo, detesto o governo. Quero tudo limpo. Além disso, não sonegar vai endurecer minhas posturas, nada de facilidades, nem deixar de depositar os direitos dos trabalhadores, nada de roubar no peso (e foi enumerando todas as coisas que ele não faria).

Puxei a gola do Samuel.

EU – Samuca, meu filho, você que trouxe ele?

SAMUCA (emburrado) – tá doido?!

Nós fomos lá por trás e ajeitamos o Cubo (porque ele é um pescador das redondezas que é, como dizem, 2 por 2 por 2, um monstro, um absurdo de pessoa, um escândalo da Natureza, a mãe deve ter morrido no parto ou o marido divorciou logo depois) para ir lá e caçar briga com ele.

Às vezes ele vem, vê o Cubo e vai embora, fica no bar vizinho. Estamos pagando um salário mínimo pro Cubo ficar por ali, ele finge que varre o lugar.

Serra, quarta-feira, 27 de janeiro de 2016.
GAVA.

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