Pastora X: General
Josué
A pastora Eunice
aumentara mais alguns quilos e, mercê da boa alimentação, estava maior, com o
mesmo chapelão, vestido rodado florido de seda, sempre um diferente, com a casa
cheia para o espetáculo, tinha construído templo maior da IEMP (Igreja do
Evangelho Monangular Planetária) que, para desespero de seus desafetos, já
tinha filiais em alguns lugares. Os pastores capetas não deixavam de infernizar
e eram sempre vigiados pelo grupo do Martelo Sagrado. Pichavam os muros do
templo, tinham bandos para vaiar quem entrava, entravam alguns a título de
apreciar, mas só para gravar tudo e fotografar com os celulares, essas coisas
nojentas.
O povo só fazia
aumentar, porque a pastora falava o linguajar deles, até chulo quando
necessário, “quero que Deus me castigue se eu estiver errando”. O podre do
marido tinha fugido com a sirigaita periguete que ela denunciara dois anos
passados, levando a Mercedes cupê e “uma bolada” (ela não dizia quanto), mas
voltara arrependidinho quando acabou a grana, ela deixou ele mofando, mas
aceitou de volta, Deus perdoa, humilhou-o obrigando-o a fazer exame de sangue,
sugerindo que ele poderia ter AIDS (não tinha, mas ele fez assim mesmo, todo prostrado,
obediente, ganhou um relógio de ouro e não falava mais nada, quietinho).
E o povo chegando,
nas filiais também, os pastores capetas mordiam os cotovelos, irados.
PASTORA (abrindo os
braços agora enormes) – depois que Moisés abriu o Mar Vermelho com o cajado
dele, vocês lembram que era ENORME (as ovelhas começaram a babar), e todo mundo
passou sem sujar os pés, as crianças, tadinhas, carregadas nos braços das mães
(várias ovelhas estavam com os olhos marejados, os homens assentiam com as
cabeças, aprovando), lá foram eles ficar aqueles 40 anos no deserto, eram todos
novinhos, inclusive o tenente de Moisés, Josué, que significa Salvador, que nem
Jesus. Ele tinha 20 e poucos, igual meus filhos agora, eles se formaram, um em
matemática, um em psicologia, a menina moça falta um ano para se tornar doutora
médica, eles que me contam isso. O Diego, que é psicólogo, disse que o doutor
Freud (é Fróid lá pros estranja, mas aqui é assim que falamos, né, gente?) ...
AS OVELHAS
(satisfeitas por estarem sendo dizimadas) – ééééé...
PASTORA (agradada com
o apoio da torcida) - ... o doutor Freud disse que Moisés é Aquinatão, o rei lá
dos egitos, Amenófis, sei lá, nomes estrangeiros, difíceis de falar. Ele que
implantou o monoteísmo, mas o povo de lá era igual esses pastores capetas, tudo
ateu (apontou com o queixo triplo o fundo do templo, os pastores capetas
levantaram os dedos, maior deselegância, justo na casa de Deus, o pessoal do
Martelo Sagrado partiu para cima deles, eles fugiram acelerados), não concordou,
Moisés teve que tirar o cavalinho da chuva, partiu, levou a capangada dele.
Então, quando estou falando Josué já tinha 60, por aí, chegou nas portas da
Terra Santa, Deus falou com Moisés, “hum, hum, aqui você não entra”, de formas
que Moisés não pôde entrar, Josué que foi, já era general de cinco estrelas,
sei lá, até mais, Marechal, era um graudão desses aí.
OVELHAS E OVELHOS –
ééééééééé...
PASTORA
(entusiasmada, crescendo ainda mais com o apoio irrestrito das ovelhas e
ovelhos, algumas ovelhas estavam desmaiando de emoção com o Marechal de cinco
estrelas Josué entrando assim com violência conquistadora, arrombando as portas
da Terra Santa; ela parecia gigantesca, com os peitões balançando de um lado
para o outro) – lá vai Josué, ninguém segura ele, vai entrando com tudo (as
ovelhas estremeciam) ...
Os pastores capetas
gritavam indecências, o Martelo Sagrado (com martelos de borracha, não eram
mais de aço, sim de borracha dura, ficava quase igual) agia nos bastidores, foi
uma confusão danada nesse dia.
Serra, sábado, 23 de
janeiro de 2016.
GAVA.
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