Gronk X: Gronk Coopta
a Agressividade
Já agora o pessoal
prestava mais atenção a Gronk, Mirante ficava colado nele, papagajo de pirata,
pousado no ombro para tentar levar a fama nas fotografias dos pirados
paparraça.
Gronk nem estava aí,
ficava pensativo, escapava das feras por pouco, os dentões estavam rodeando. Se
antes o pessoal procurava empurrar ele para o fogo amigo, agora já ficavam
atentos para evitar que fosse lambido pelos inúmeros perigos daqueles tempos,
era um pouco menos que hoje, havia mais feras de quatro pernas, mas menos de
duas.
Dessa vez Gronk
estava alimentando um lobinho sem mãe com os restos da caçada, deixava ele
lamber a carne que tinha ficado nos couros.
Ban ficou puto.
Tá certo que é irmão,
mas assim também não.
Foi tirar
satisfações.
BAN (espumando, mas
evitando bater nele, as mulheres tinham virado fãs, elas perguntariam dos
calombos na cabeça e dos olhos roxos) – Gronk, mais uma cagada?
Todos se aproximaram
para ver o bate-boca dos irmãos, era acontecimento nobre, pena não poderem
guardar detalhes.
MIRANTE (olhando para
dentro, os olhos brancos assustadores assombrando o povo em volta, os novatos
não estavam acostumados) – vai haver uma coisa, a máquina fodagráfica.
PEGO – vai, tio?
TUOR – lá vem você,
não tá vendo que ele é pinel?
BAN – Gronk, você
fica dando comida pra lobo?
GRONK – não é lobo, é
filhote de lobo.
BAN – é lobo, seu
idiota, é filhote agora, vai crescer, vai ser adulto, vai ser lobo, de onde
você pensa que vem os lobos, vem dos filhotes, né, seu cavalo de crista.
GRONK – certo, mas
agora é filhote, olha os dentinhos!
Ele mostra, eram
bonitos mesmo.
BAN – é, vão virar
dentões destamanho.
GRONK – não tá
fazendo mal a ninguém e vou treinar ele para gostar de nós, quando tiver filhos
treino os filhos e os netos, vou treinando, um dia eles vão ajudar a gente a
caçar.
BAN – é? É? É? Um dia
eles vão te comer ou comer suas crianças, seu cavalo. Além disso, você tá dando
nossa comida.
GRONK – não é nossa
comida, são restos, barrigadas, carne que ficou nas peles, ninguém vai mesmo
aproveitar. Porcaria.
BAN – esqueceu que a
gente usa as barrigadas para atrair os dentões e mata-los?
GRONK – não peguei
dessas, peguei dos restos mesmo, que ficam para trás, que ninguém usa para
nada.
MIRANTE (virando os
zoinhos e dizendo “eu sou filho de São Salvador”, os baianos maconhados são
descendentes dele, umas ervas que ele andava fumando) – sei lá, 300 a 800 raças
descendentes desse aí que o Gronk tá levando.
GRONK – brigado,
mano.
BAN – se essa coisa
me morder eu acabo com a raça dele.
GRONK – vou tomar
conta.
Bem, o fato foi que
Gronk tomou conta mesmo, levou no colo não sei quantos quilômetros, foi hilário,
às vezes Mirante ajudava, lá iam os dois palhaços. Mas cuidou, com a ajuda do
Mirante e das crianças maiores da tribo (as mulheres não queriam nem ver por
perto) num lugar mais longe, iam visitar o cercadinho, ficavam brincando com
ele, arranjaram uma fêmea, outro filhote, bem bonitinha, os dois cresceram, mas
foram ficando amigos, com o passar do tempo estavam de fato caçando junto do
pessoal, mais uma vitória do Gronk, não é que deu certo? Quando Ban morreu já
bem velho com 51, Gronk herdou a chefia, tornou-se venerado ancião, chegou ao
59, seu filho mais velho assumiu depois dele, também foi treinado a pensar.
Deles, desses pensadores descende a humanidade. Bem, nem todos, alguns são de
outras tribos.
Serra, segunda-feira,
18 de janeiro de 2016.
GAVA.
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