Sunday, September 08, 2013

Pinscher -7 (da série Ah Se Eu Te Conto)

Pinscher -7

O Pinscher 1 era o menor de todos, até que o sentido de desafio levou os criadores a produzir um ainda menor, abaixo do qual não seria possível de jeito nenhum reduzir o tamanho: o Pinscher Zero, o rei dos naniquinhos, das florzinhas de madame.
Não poderia, você disse?
Você não conhece a sanha dos engenheiros genéticos. Juntando-se aos miniaturistas japoneses dos bonsais, aos designers dos micros produtores de circuitos, todos juntos ultrapassaram a barreira do não e produziram um sim bem sonoro na cara dos negativistas.
Produziram o Pinscher -1.
Que tinha um palmo, menos, uma chave de comprimento, que vai da vertical do polegar estendido à vertical do indicador estendido, quando postos sobre uma taboa, enquanto o palmo, você sabe, vai da vertical do polegar à vertical do mínimo, é ligeiramente maior, mas em se tratando de Pinscher é sempre bom frisar.
Chave, não palmo.
E já que tinham chegado até aí, inventaram o Pinscher-chave mesmo, do tamanho de uma chave, o Pinscher -2.
E daí para o Pinscher -3 foi um salto, quer dizer, 1/10 de salto, foi daqui para ali; e prosseguiram.
- Este meu é o Pinscher -7.
A outra estava encantada, dulcificada, abobada, se derretia toda com a miudeza.
- Onde?, vai logo buscar, querida.
- Não precisa, está aqui comigo.
- Aqui, onde?
- Ele é muito tímido.
- Chama logo, chama logo.
- Aqui, debaixo do meu cabelo, tá vendo?
A outra se aproximou bastante, firmou os olhos.
- Nossa, que gracinha! Quase não dá pra vê-lo.
- É fêmea, a Filó.
- Vem Filó, com a titia (e estendeu o polegar, a Filó saltou no dedo, que para ela era imenso, verdadeiro ringue de patinação). – Ela não tem problema de ouvir a gente?
- Não. Não sei como eles fizeram, mas ela ouve perfeitamente. E para alimentar é uma gota de água por semana e um grão de ração por mês, muito econômico. O problema é que a gota outro dia rolou por cima dela, ela quase se afogou. E os micro-organismos da gota quiseram mordê-la, os infelizes, a Filó ficou meio traumatizada, agora só dou o que couber na ponta do alfinete.
Serra, segunda-feira, 24 de junho de 2013.
José Augusto Gava.

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