Abandono
ESTE É UM ABANDONO DE FORA PARA DENTRO
Benvinda
Dono do abandono e da tristeza
Comunico oficialmente que há um lugar na minha mesa Pode ser que você venha por mero favor, ou venha coberta de amor Seja lá como for, venha sorrindo Ah, benvinda, benvinda, benvinda Que o luar está chamando, que os jardins estão florindo Que eu estou sozinho Cheio de anseio e de esperança, comunico a toda gente Que há lugar na minha dança Pode ser que você venha morar por aqui, ou venha pra se despedir Não faz mal pode vir até mentindo Ah, benvinda, benvinda, benvinda Que o meu pinho está chorando, que o meu samba está pedindo Que eu estou sozinho Vem iluminar meu quarto escuro, vem entrando com o ar puro Todo novo da manhã Oh vem a minha estrela madrugada, vem a minha namorada Vem amada, vem urgente, vem irmã Benvinda, benvinda, benvinda Que essa aurora está custando, que a cidade está dormindo Que eu estou sozinho Certo de estar perto da alegria, comunico finalmente Que há lugar na poesia Pode ser que você tenha um carinho para dar, ou venha pra se consolar Mesmo assim pode entrar que é tempo ainda Ah, benvinda, benvinda, benvinda Ah, que bom que você veio, e você chegou tão linda Eu não cantei em vão Benvinda, benvinda, benvinda, benvinda, benvinda
Chico Buarque
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Quando comecei minha trajetória foi
naturalmente que, como quase todos, tornei-me apegado a muitas coisas, até
porque nos ensinam isso para viver e o capitalismo nos super-ensina para
super-extrair da gente.
É bom e é ruim.
Não gostei da ausência de Buda e dos
eremitas.
Entretanto, fui abandonando as coisas.
DONO DO ABANDONO (fui eu que
abandonei, não fui abandonado, exceto no descasamento e no que sucedeu,
inclusive nas inúmeras pedradas que recebi do Fisco no ES)
1º
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Abandonei o tempo, descri dele desde os 19
anos, achava que não existia, depois provei que o passado e o futuro não
existem mesmo, estamos na linha finíssima do horizonte de Planck que muito
antes e sem saber chamei de HS horizonte de simultaneidades. O tempo não
existe, é um bater de cada cê-bóla © ou dimensão espacial de Planck. Jesus já
havia dito em Mateus 6.
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2º
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O espaço existe de fato, mas não podemos
vê-lo, só vemos o tempo (que, todavia, não existe). Contudo, do espaço deixei
de me interessar por tudo aquilo que está distante, fiquei só com aqui que
está próximo, pois não posso administrar a Terra de 510.000.000.000.000 m2,
muito menos o universo de 13,73 bilhões de anos-luz. Fico só com o meu
quadradinho e não por egoísmo, só porque posso bem pouco. Não procurei viajar
e ver tantas coisas.
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3º
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Abandonei os quatro índices de aflição
psicológica: a fama-glória, o poder-mandão, a riqueza-superter, a
beleza-superser, no centro o super-saber.
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4º
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Desconsiderei ao máximo que pude - em favor
de escrever e tentar transmitir o que havia pensado - a Chave da Proteção
(ter lar, ter armazenamento, ter saúde, ter segurança, ter transporte-carro).
Fiquei com o mínimo para vivência.
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5º
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Vivi o Conhecimento (Magia-Arte,
Teologia-Religião, Filosofia-Ideologia, Ciência-Técnica e Matemática) de
dentro para fora, através da escolha dos livros, e não de fora para dentro
como ideologia super-escolar.
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6º
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Vivi a Psicologia (Figuras ou quem?;
objetivos ou por que?; economia ou com que?; sociologia ou como?; tempespaço
ou geo-história ou o quê?) com o máximo de simplicidade.
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7º
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Não pretendi me apossar da Chave Econômica
(Agropecuária-extrativismo, indústrias, comércio, serviços e bancos), exceto
a partir de agora porque há um motivo-guia, os santuários para as criaturas –
então vamos fazer as patentes.
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Ora, devo dizer que isso foi muito bom, sem
ser como, com Buda, o abandono de toda gente.
Prestei atenção na “pureza d’alma” e em todo
o lado bom do dicionárienciclopédico (dicionário de palavras, enciclopédia de
imagens), por conta da pergunta-promessa: “é possível arranjar uma resposta
geral que abarque todas as pessoas e todas as criaturas? ” Concentrando-me
assim, pude responder através dos escritos. Se fui eficiente, julgue você
mesmo.
Nós não precisamos de muito.
Como diz a canção de Mogli-Balu, somente do
necessário, e o necessário pode ser bem pouco.
O
EXTRAORDINÁRIO É EXCESSIVO
Somente o Necessário
[Balu]
Eu uso o necessário Somente o necessário O extraordinário é demais Eu digo necessário Somente o necessário Por isso é que essa vida eu vivo em paz
Assim é que eu vivo
E melhor não há Eu só quero ter O que a vida me dá Milhões de abelhas vão fazer Fazer o mel pra eu comer E se por acaso eu olhar pro chão Tem formigas em profusão Então, prove uma
[mogli]
Você come formigas?
[balu]
Tranquilamente... E você vai adorar a coceira que elas dão
[Baguera]
Mogli, cuidado!
[Balu]
E o necessário pra viver Você terá
[Mogli]
Mas quando?
[Balu]
Você terá
Eu uso o necessário
Somente o necessário O extraordinário é demais Eu digo o necessário Somente o necessário Por isso é que essa vida eu vivo em paz
Vejam o pica-pau, pau
Que só pensa em picar
[Mogli]
Ai!
[Balu]
Ele vai se dar mau, mau Pra se alimentar Não pique a pera no pé Pois pera picada no pé Nunca presta, pois é Não vai dar pé Você vai dar mal Não pique essa pera como um pica-pau Você entendeu esse angu?
[Mogli]
Claro que sim, balu
[Baguera]
Ah! puxa vida! Isso até parece conversa de louco!
[Balu]
Vamos, baguera, entre no compasso E o necessário pra viver você terá
[Mogli]
Está pra mim!
[Balu]
Você terá
Já que você está aí em cima
Quer coçar meu ombro esquerdo, hein, mogli Não, não agora o direito Isso mesmo Assim, assim Isso é uma beleza Isso é muito bom Eu agora preciso arranjar uma árvore Porque isso merece uma grande esfregadela
[Mogli]
Você é gozado, balu
[Balu]
Assim... É uma delícia Só um pouquinho mais |
Serra, quinta-feira, 02 de julho de 2015.
GAVA.
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