Vida de Cão

 

Vamos tentar comparar os trabalhadores e os cachorros.

ATIVIDADES

QUEM PAGA	TRABALHADOR (A)	CÃO
		O nosso é muito parecido com este.
Aborrecimentos.	Constantes, ele introjeta e vai morrendo um pouco cada dia, porta inúmeras doenças.	Nenhum.
Alimentação.	O próprio.	O tutor.
Casa.	Ele mesmo deve arcar com as despesas de construção ou de financiamento, manutenção, pintura.	Silas, nosso labrador Pink nose, mora em casa; em geral moram numa casinha no quintal.
Correção.	Apanhava frequentemente, não apanha mais, mas “tomam esporro”, como dizem.	Muitos ainda apanham, infelizmente.
Diversão.	Ele paga (TV, rádio, ida ao estádio, outra mídia).	Por conta própria: latir e passear no quintal.
Educação.	O casal paga para os filhos (e para si se desejarem continuação do aprendizado).	O patrão (não custa barato).
Estudo.	Deve se esforçar até pelo menos o primeiro grau, agora até o segundo grau.	Não precisa, já nasce pronto.
Filhos.	Ele e a esposa (ou vice-versa), são responsáveis pela manutenção até a idade de trabalho (mínimo de 14 anos), inclusive educação, roupas, vacinação e toda a trabalheira.	Pode ter ou não, custa a ração.
Passeio.	Se for possível, as despesas são dele.	O tutor leva e traz todo dia.
Roupas.	Deve comprar para si e para os filhos.	Não necessita.
Saúde.	O governo impõe o pérfido SUS com os tributos pagos pelos operários.	O tutor paga (cada operação de verruga custa 600 reais).
Segurança.	Vive inseguro, deve cuidar dela no trânsito e em casa.	Partilha aquela do tutor.
Trabalho.	Aprende na escola ou, mais frequentemente, na prática do serviço, durante 30 anos para a mulher e 35 anos para o homem.	Já nasce pronto. Dormir, latir, dormir, latir. É o tempo de vida.
Transporte.	Ele paga para si e os seus (se a esposa ou o marido trabalham, ambos custeiam dos filhos). Agora o transporte ao serviço é pago pelo empresário (está embutido no salário). Qualquer que seja, sempre lotado.	Não há; se houver o dono leva e traz.
Vacinação.	O governo paga com os tributos tirados aos trabalhadores.	O tutor (custa pelo menos 300 reais por ano).
Velhice.	Recebe aposentadoria, que é do mesmo porte do salário de fome.	Vive ao nível do tutor.

Provavelmente esqueci algo.

Ninguém desejaria viver como cachorro, mas a questão aqui é que os trabalhadores sustentam os patrões e os patrões sustentam os cachorros. Como dizem, os proletários (no original romano “os que tem filhos”) “pagam para trabalhar”, pagam caro, pagam com a própria vida.

Serra, sábado, 30 de maio de 2015.

GAVA.