Afinal de Contas
Nesse campeonato o
juiz era o Acerto de Contas e ele não dava folga a ninguém, cartão vermelho e
estava fora, só quando acertasse tudo é que voltava e mesmo assim nos próximos
jogos. Bobeou, dançou.
O jogo entre Relaxamento no Acompanhamento, chamado
apenas Relaxamento ou Relax, e o Atentos às Miudezas ou apenas Atentos,
o Atentos ganhou de 6 a zero, mesma
diferença do jogo em que o Brasil perdeu de 7 a 1. Foi de lavada, Relax jogava
mole, o Atentos goleou à vontade,
deu até pena, ele até que tentava facilitar para não ganhar de muito (igual
naquele outro jogo), mas parecia coisa combinada, o Relax jogava derreado,
caído mesmo.
Depois foi a vez de Postergação dos Problemas ou apenas Post contra o Acompanhamento Diário ou só Diário,
Diário também massacrou, Post não deu para o gasto, perdeu feio e ainda por
cima não quis reconhecer que era ele que alimentava os problemas, a
responsabilidade era só dele: queria – como os empresários – ajuda do governo
para a solução, ficava chorando, em vez de lutar em campo. Deu no que deu: 8 a
1.
Preocupação sem Eficácia ou só Pré tentou, fez o que pode, mas sem
eficácia, não conseguia focar, estava dispersivo, jogava ao léu, sem dedicação,
ficava olhando para os lados, não atentava, enquanto o Anotação de Tudo, chamado de Tudinho
pelos desafetos, fez bonito, sem pose, com muita atenção nos detalhes foi
entrando e conjuminando, controlou o campo do começo ao fim do jogo, só não fez
mais porque - extremamente comportado - não queria trucidar os adversários, 4 a
1, margem confortável, mas não derrotista, se o adversário mudasse poderia
ainda permanecer no jogo. Perdeu, saiu.
Prestenção, time de Minas, entrou com tudo e goleou o Amanhã eu Faço ou apenas Amanhã, foi de dar revolta nos
torcedores: 9 a 2, nunca tinha havido um placar assim, o Amanhã olhava o futuro,
nem parecia em campo, não cuidava do presente e, desconsiderando o conselho de
Jesus, sonhava com o depois, não atentava para o presente.
Quem perdia saía,
para não encompridar demais o campeonato.
Foi a vez do Atentos versus Diário, o jogo foi duro,
mas o Atentos, embora prestasse atenção, não conseguiu acompanhar o Diário, de
forma que perdeu de 3 a 2, não foi placar assim dilatado, a luta foi renhida, a
torcida aplaudiu muito o Atentos e até teve um lance que os próprios jogadores
do Diário aplaudiram os outros, uma jogada que parecia um nada, mas os do outro
time estavam precavidos e foram construindo até o gol. Foi maravilhoso, todas
as torcidas aplaudiram (não se esqueça que só os times foram desclassificados,
torcidas e jogadores permaneceram nas arquibancadas).
Tudinho foi com tudo
mesmo, justificando o nome, contra o Prestenção, Tudinho versus Prestenção. Prestenção jogou com garra, com uma
firmeza de arrepiar, mas Tudinho realmente extrapolou, ganhou, embora apertado,
porque Prestenção olhava muito, mas não tinha criatividade, não cuidava das
miudezas, não atentava aos centavos, cuidava só dos cruzeiros. 5 a 4, jogo
renhido, aflito até, posso dizer, foi mesmo de ficar eriçado.
A Final de Contas foi
entre Atentos e Diário, jogo
apertadíssimo, o juiz suava para correr o campo, vários torcedores foram
atendidos com pressão alta, a plateia nem sentava mais, aplaudia de pé, o velho
jogo-arte brasileiro, a gente se lembrou dos tempos bons que não tem voltado,
mas a gente continua esperando, Deus há de ajudar.
Embora o Atentos
fosse focado, Diário ganhou, ainda que nos
pênaltis, as pessoas urravam com a devoção do Diário, o esforço constante, a
atenção nas pequenas coisas, nos detalhes.
Vou confessar que
chorei, não tenho vergonha, não, até apareceu na televisão, caramba, os fortes
também choram. Claro, comprei o DVD do campeonato todo, mas assisti e reassisti
o jogo final, a Final de Contas. Em casa eu voltava a chorar, minha esposa
também, as crianças, era uma choradeira danada, levou quem foi mais fiel, cuidadoso
o tempo todo, quem não esperou pela sorte, uma lição de vida e devida.
Só de pensar eu
choro.
Time igual ao alemão,
e ganhou sem ajuda, ainda por cima.
Serra, terça-feira,
12 de janeiro de 2016.
GAVA.
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