Friday, July 15, 2016


Desmorrer

 

Esse vou contar porque é embasamento de outro, meu, mas ele é de um cara aí, me disseram, nem sei se estou falando direito, vou tentar ser fiel às memórias, se houver alguma coisa destoando você que faça as pesquisas para chegar à fonte em vez de ficar dependendo de mim para tudo.

Não sei os detalhes, mas parece que era assim.

Era uma dessas coisas de “universo alternativo”, nego sai criando isso de terras alternativas com toda facilidade, é só usar as palavras, não pensa nas dificuldades, na complexidade da coisa. Como o espaço e o tempo aqui são pequenos, não vou abordar os detalhes da minha construção crível, que está naquilo que escrevi, permitiriam construir programáquinas definidores de universos verdadeiramente convincentes.

Vou deixar de lado e ir direto à questão.

Imagine um UA (universo alternativo) em que, em vez de começar bebê e ir crescendo, envelhecendo, amadurecendo, tudo fosse ao contrário, você iria buscar primeiro a avó, que em geral nasce mais cedo, depois de uns anos o avô no cemitério: certo dia iriam todos ao campo santo e os descoveiros começariam a descavar para tirar o caixão (nesse ínterim os corpos estariam se regenerando, não sei como, esses detalhes mágicos formidáveis, uma mentirada danada), levado para casa, de dentro dele a avó, depositada na cama, de repente (são esses detalhezinhos mínimos que ninguém conta) abriria os olhos, começaria a conversar, se levantaria e iria ficando cada vez mais jovem, começando de 82, 81 e vai ficando mais forte, pele com tônus, sem rugas, enquanto isso a filha (é sempre ela, o genro acompanha) também ficaria mais jovem, 60, filha com 40 (mulheres sempre tem filhos mais jovens), marido 45, netos, todo mundo rejuvenescendo e tal, aquela felicidade, maior força, 50, filha 30, depois 40, filha 20 descasando, o enjoado do genro indo embora para a casa de seu pai e mãe, etc. Os filhos e filhas da filha ficando menores, bebês, ela embarrigando e eles desnascendo e assim por diante.

Tem umas coisas aí completamente absurdas, não vou comentar, não vou falar nada, é tudo mágico mesmo, a imbatível espada penetrante e o superescudo defensor de espadas super-perfurantes, essas bostas. Não sei pra que assisto esses filmes. É absurdo em cima de absurdo, é ridículo, não é como as coisas que imagino.

Enfim, a gente tem de tolerar, senão não passa o tempo.

Sem comentários.

Foi isso, “desmorrer” é o inverso de nosso mundo, como se passado fosse futuro e vice-versa, mas não caminhando de ré como se o tempo estivesse voltando, alguma coerência tinha, não vou dizer que não.

Um pouco pobre de imaginação, fazer o quê?

Serra, domingo, 17 de janeiro de 2016.

GAVA.

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