Sunday, September 15, 2013

A Prisão do Amor (da série Conto N'Ato)

A Prisão do Amor

É bonita.
Pessoal muito educado, o maior primor.
Lá estão pais e mães, avôs e avós, uns poucos funcionários públicos dedicados, políticos são menos ainda. Os iluminados são poucos, pouquíssimos, menos de 15 (porque são poucos na geo-história da humanidade), ficando num setor especial muito visitado pelas pessoas que vão lá aprender. Estadistas, bastante, santo-sábios em número menor, porque são poucos, embora bem mais que os iluminados.
Todos prisioneiros.
Os prisioneiros não estão lá por lá terem sido colocados, ficam dentro das celas porque querem. Poderiam sair delas a qualquer momento, mas insistem em ficar e ainda por cima amarrados. Filhos e filhas, gente de toda idade, pessoas de todas as raças, de todas as culturas. Na realidade ESFORÇAM-SE por ficar presas desde crianças, treinadas para isso desde o berço. Coisas que jamais fariam se obrigadas acabam por fazer com prazer saltitante dentro da prisão.
Passam a vida toda, 40, 50, 60 anos trabalhando felizes.
A PRISÃO DO AMOR
Em todas as línguas.
As pessoas fazem festa quando vão para a prisão.
Tá vendo? As pessoas chegam a pagar para entrar.
Longe de afastar, as disparidades aproximam.

É O AMOR
Prisão Sem Grade

Ultimamente já não tenho mais mandado em mim,
Só foi você que fez com que eu ficasse assim,
Não há nada que eu possa fazer, a não ser me envolver
Quando o amor invade é sempre natural,
Bateu dentro do peito, um clique fora do normal,
E agora só resta deixar, acontecer
Você me seduziu me hipnotizou
Eu me apaixonei, a cabeça virou
Eu sigo minha vida numa prisão sem grades
Eu sigo te amando e todo mundo sabe
Todo mundo sabe, todo mundo sabe
Todo mundo sabe
Quando o amor invade é sempre natural
Bateu dentro do peito, um clique fora do normal,
E agora só resta deixar, acontecer
Você me seduziu me hipnotizou
Eu me apaixonei, a cabeça virou
Eu sigo minha vida numa prisão sem grades
E todo mundo sabe, todo mundo sabe
Todo mundo sabe
Você me seduziu me hipnotizou...
A cabeça virou
Eu sigo minha vida numa prisão sem grades
Eu sigo te amando e todo mundo sabe
Todo mundo sabe, todo mundo sabe
Todo mundo sabe

O Amor tem vários irmãos: o Querer, o Desejo, a Ânsia, o Sexo, a Vontade – é família grande, mas de todos da família o Amor é o mais competente, de longe o melhor de todos.
SÃO PAULO JÁ FALAVA DELE
O poema sobre o amor
É no capítulo 13 da epístola que Paulo fala grandiosamente sobre o amor (em grego ágape) que, em algumas traduções, aparece com o vocábulo caridade:
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a , de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. O Amor nunca falha. Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o Amor.
Monte Castelo

Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.
É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal.
Não sente inveja ou se envaidece.
O amor é o fogo que arde sem se ver.
É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
É dor que desatina sem doer.
Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.
É um não querer mais que bem querer.
É solitário andar por entre a gente.
É um não contentar-se de contente.
É cuidar que se ganha em se perder.
É um estar-se preso por vontade.
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.
Estou acordado e todos dormem todos dormem todos dormem.
Agora vejo em parte. Mas então veremos face a face.
É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.
Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua do anjos, sem amor eu nada seria.
Composição: Renato Russo
 (após Camões e antes dele São Paulo)

Bastante curioso, o Amor.
Pois na Prisão do Amor não há grades, não há muros, as pessoas só ficam lá porque querem mesmo. De fato, ELAS VÃO PARA LÁ POR VONTADE PRÓPRIA, ninguém as empurra.
Há dentro delas uma espécie de matéria que é atraída pelo campo do amor, de forma que podemos dizer que é como uma limalha de ferro num campo eletromagnético. Já que dizem que “o amor atrai”, vê-se que o amor é o campo, aquela coisa existente dentro das pessoas sofrendo a “atração do amor”; por outro lado, quem atrai também é atraído. Então, o amor está em toda parte, tanto fora quanto dentro de cada um: todo ser tem potencial para o amor, mas ele precisa ser ativado para em seqüência ativar também.
Tal constatação meridianamente nos mostra ter havido um primeiro.
Talvez porisso se fale em “cadeia do amor” (tanto no sentido de um elo estar unido a outro quanto no de aprisionar).
Serra, sexta-feira, 30 de novembro de 2012.
José Augusto Gava.

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