Sunday, September 15, 2013

A Publicação do Museu do Inexistente (da série Conto N'Ato)

A Publicação do Museu do Inexistente

Quantas são as coisas inexistentes?
Tantas que você nem sabe.
De fato, nem dá para contar.
O MERCADO NEGRO DE OBJETOS ARQUEOLÓGICOS
Tudo isso para contar.
Boneca cobiçada: só sobrou a cabeça.
Pagou...
... levou.
18. Julho 2012 - 11:00
O lado oculto do submundo arqueológico
Legenda: Em 2003, a alfândega suíça descobriu um tesouro roubado com 200 peças do antigo Egito, incluindo duas múmias, no entreposto aduaneiro de Genebra. (Keystone)
Por Michèle Laird, swissinfo.ch
A Suíça vem limpando seus entrepostos alfandegários depois de um escândalo em 1995 sobre antiguidades roubadas. A luta para interromper a atividade criminosa vem aumentando mundialmente, principalmente com a possibilidade de compartilhar informações pela internet.

Museus de todo o mundo ainda exibem tesouros arqueológicos que às vezes não são legalmente deles. Enquanto os governos disputam a propriedade deles por direito, saqueadores continuam roubando locais para alimentar um próspero mercado negro.

Agora, um repórter do Los Angeles Times está tentando criar "WikiLoot", uma forma de troca de informações sobre antiguidades roubadas via web. "Queremos que seja impossível fechar os olhos", explica Jason Felch à swissinfo.ch.

Felch e Ralph Frammolino realizaram uma reportagem de cinco anos, que culminou em 2011 com a publicação de um relato do submundo arqueológico que se lê como um thriller.

A descoberta em 1995 que o entreposto aduaneiro de Genebra servia de refúgio para uma rede internacional de antiguidades roubadas ligadas ao Museu Getty, em Los Angeles, foi o ponto de partida para a reportagem.

Quando o carro de um ex-policial italiano sofreu um acidente em agosto de 1995 em uma estrada a meio caminho entre Nápoles e Roma, o desenlace de uma enorme quadrilha de contrabandistas estava prestes a começar.

Agindo rapidamente sobre as evidências encontradas no carro da vítima, os Carabinieri italianos, a polícia italiana, prepararam com as autoridades suíças uma intervenção conjunta de uma sala no quarto andar do entreposto aduaneiro de Genebra, base de uma empresa ligada a um negociante de antiguidades italiano, Giacomo Medici.

Na sala foram encontrados milhares de objetos de tumbas saqueadas, principalmente da Itália e, mais importante ainda, documentação completa sobre as operações anteriores, muitas realizadas com os principais museus do mundo.

Mudanças na lei
"Medici se sentia tão seguro em Genebra, que ele mantia registros extensos e fotografias de todos os objetos", observou Felch. Em 2004, Medici foi finalmente condenado a dez anos por um tribunal italiano e multado em € 10 milhões (SFr12 milhões). A Itália ainda está recuperando os objetos.

Em resposta ao escândalo que explodiu nos depósitos de Genebra, a Suíça finalmente entrou em ação: em 2003, aprovou uma lei para regulamentar a transferência internacional de bens culturais segundo a Convenção da UNESCO sobre bens culturais de 1970. Em 2005, criou uma agência para implementar a lei.

Os entrepostos aduaneiros, ou depósitos francos, tornaram-se sujeitos aos mesmos regulamentos que orientam todas as importações, com a obrigação de declarar origem, propriedade e valor para todas as mercadorias importadas. Desde 2009, um inventário completo também é necessário.

Justiça penal
Quando um “discreto” entreposto aduaneiro foi aberto em Cingapura em 2010, temia-se que as rigorosas normas suíças afastariam os usuários dos entrepostos suíços, mas Genebra continua funcionando a 100% de sua capacidade e pretende se expandir ainda mais.

Felch explica que países como a Suíça costumam tratar os casos suspeitos na justiça penal - e não civil – o que faz com que os processos sejam frequentemente arquivados por razões técnicas ou porque os crimes são difíceis de provar, especialmente quando a origem dos artefatos roubados não podem ser identificada.

O repórter menciona a anedota que diz que quando um objeto de arte é de proveniência duvidosa, é invariavelmente atribuído a "uma coleção particular suíça".

Ele também descreveu o sofisticado esquema de Medici para obter um artefato “virgem”. Medici lavava um objeto recém-saqueado colocando-o a leilão em Nova York ou Londres. Um comprador laranja o adquiria e devolvia o artigo com o "selo de legitimação".

"Os leilões agiam como lavanderias, eles foram cúmplices com o que estava acontecendo."

Web semântica
Com a riqueza das informações disponíveis, Felch espera que as pessoas serão incentivadas a procurar a verdade. "WikiLoot vai lança uma luz clara no mercado negro", disse.

As extensas investigações criminais que levaram à Medici, e agora ao não menos famoso negociante de antiguidades siciliano Gianfranco Becchina, vêm reunindo milhões de documentos que poderiam ser processados pela chamada “Web semântica”, uma forma para indivíduos e instituições compreenderem uma questão de maneira coletiva através da partilha e processamento dos dados brutos.

WikiLoot ainda tem que encontrar o financiamento necessário, embora os parceiros potenciais já tenham sido identificados.

"O mercado negro de antiguidades só vai mudar quando o conceito de que não é possível ser dono do patrimônio cultural for aceito", sugeriu.

Michèle Laird, swissinfo.ch
Adaptação: Fernando Hirschy
Como funciona a arqueologia
por Sarah Dowdey - traduzido por HowStuffWorks Brasil

Arqueólogos amadores e ladrões
Por meio da pesquisa e da interpretação, os arqueólogos transformam restos materiais com significado desconhecido em itens historicamente importantes. Eles montam panoramas sobre civilizações perdidas, resolvem mistérios médicos do passado e descobrem como chegamos ao lugar que hoje ocupamos. Mas seu trabalho depende da precisão - um sítio desordenado tem menos chance de reter pistas verificáveis. Embora pessoas que não são arqueólogos ocasionalmente façam achados importantes, os arqueólogos amadores e saqueadores muitas vezes destroem, deslocam ou roubam artefatos miraculosamente preservados por muitos anos.

David Noton/Getty Images
O Peru, país rico em artefatos arqueológicos e sítios históricos, como Macchu Picchu, esforça-se para proteger seus tesouros
Para prevenir ou ao menos restringir essa destruição, muitos países têm leis sobre antiguidades. Nos Estados Unidos (em inglês), a Lei de Antiguidades proíbe a escavação ou destruição de quaisquer materiais arqueológicos em terras do governo. A lei está em vigor desde 1906 - aproximadamente a época em a arqueologia se tornou uma especialidade acadêmica reconhecida.
No entanto, proteger sítios arqueológicos é difícil, na prática. As localizações de áreas arqueológicas sensíveis são muitas vezes mantidas em sigilo. Outras já são bem conhecidas de saqueadores e exploradores casuais e não há como mantê-las ocultas.

Agências arqueológicas governamentais podem colocar placas proibindo a escavação nesses locais, mas os alertas servem mais para atrair possíveis ladrões quanto à possível presença de tesouros enterrados.
Alguns países enfrentam problemas para proteger seus artefatos da ação de contrabandistas internacionais. O governo peruano estima que pelo menos US$ 18 milhões em artefatos e objetos sejam roubados e contrabandeados a cada ano no país [fonte: Economist (em inglês)].

Em uma tentativa de fiscalizar as escavações, o Instituto Nacional de Cultura (INC) do Peru (em inglês) registra os sítios históricos e requer que coleções locais de artefatos sejam igualmente registradas. Eles chegaram a formar uma parceria com o Conselho Internacional de Museus - um grupo vinculado à Unesco - a fim de criar uma lista de itens usualmente contrabandeados, na esperança de que comerciantes de arte e funcionários alfandegários reconheçam os bens ilegais que cheguem às suas mãos.

Robert Atanasovski/AFP/Getty Images
A polícia da Macedônia recuperou essas esculturas da Era do Bronze junto a contrabandistas de artefatos. As autoridades acreditam que a Macedônia tenha perdido mais de um milhão de artefatos arquitetônicos para o mercado negro europeu desde 1991.
Mas para as pessoas que desejam escavar sem roubar artefatos ou violar leis federais, programas de arqueologia amadora oferecem a chance de trabalhar em sítios ativos reais. O popular programa Escave por um Dia, em Israel (em inglês), cobra dos voluntários pelo acesso ao Parque Nacional de Beit Guvrin, a antiga moradia do rei Herodes. Os visitantes escavam e procuram pedaços de cerâmica, e exploram um complexo de cavernas ainda não escavado.

Desde que o Google Livros e o Projeto Gutenberg começaram a digitalizar os livros, fazendo essa enxurrada da produção humana se derramar potencialmente sobre nós como a mais bem vinda inundação.
AS TECNARTES DO OCULTO (tudo isso acabou sendo escaneado em 2D e, com a ajuda dos mais cuidadosos, em 3D, então entregues anonimamente aos museus do existente via Internet ou Correios)
SENTIDINTEPRETADOR
OBJETOS DAS TECNARTES ANTIGAS
visão
pintura
desenho
fotografia
dança
moda
poesia
prosa
olfato
perfumaria
audição
música
discurso
paladar
comida
bebida
pasta
tempero
tato
arquiengenharia
paisagismo/jardinagem
decoração
tapeçaria
cinema
urbanismo
esculturação
teatro

Imagine a quantidade de escritos a partir de 5,5 mil anos na Suméria e no Egito, de objetos desde 12 mil anos em Jericó, de objetos e pedras a partir do aparecimento dos CROM (CRO-magnons) há 80 mil anos e dos NEMAY (neanderthais de Eva Mitocondrial + Adão Y).
Milhares, milhões.
Se todos fossem escaneados anonimamente a partir das coleções escondidas, todos esses objetos não apenas mudariam o rumo das investigações humanas como, principalmente, produziriam um tsunami de novas emoções investigativas de altíssima velocidade exploratória.
Os donos (que certamente cometeram erro ao comprar no mercado negro, com isso induzindo a procura destrutiva por gente despreparada arqueologicamente) estavam livres de punição (já que depois do erro prestavam serviço), mas mesmo assim ficavam no anonimato. Fotografavam ou usavam as copiadoras 3D para obter moldes precisos dos objetos. Em alguns casos, quando os objetos eram grandes demais, os governos garantiram o anonimato com policiais e até as forças armadas, quando foi o caso.
E assim MILHÕES de objetos começaram a conversar sobre o passado inexistente da Terra, pois cada ciumento proprietário só tinha alguns deles, talvez até centenas em algum porão; aqueles poucos, mesmo maravilhosos, não conversavam com os demais.
E, de repente, a enchente.
Serra, quarta-feira, 21 de novembro de 2012.
José Augusto Gava.

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