Sunday, September 01, 2013

Cadeira Elétrica (da série Ah Se Eu Te Conto)

Cadeira Elétrica

Virou moda.
Veja só como as coisas mais ridículas viram moda! Como aquelas das redes de televisão, como as da Revista Teja, as banalidades imitadas dos governantes e políticos, um milhão de coisas.
Neste caso um doido inventou uma cadeira que dava choques, mesmo através da calça-cueca ou do vestido-calcinha, fosse como fosse, dava choque. Com a particularidade de ela reconhecer os pensamentos errados, tecnologia baseada naqueles princípios esquisitos de Nicola Tesla, sei lá, doideira, mano. Em repartições governamentais ou consultórios de dentistas ou escritórios de empresas a pessoa sentava e do nada levava um choque.
Brando, tá?
Um choquinho de nada, só dava um tremelique, tremia um tiquinho e pronto. O caso é que isso acontecia quando a pessoa pensava alguma coisa errada, do tipo um homem pensar na mulher do próximo: “gostosona, seu eu pudesse pegava”.
Choque.
Ele sentia, ela via, sabia que era para ela, nem reclamava, porque soava como um elogio.
Você entrava numa repartição e via todo mundo tremendo o dia inteiro, era uma pulação só.
Por quê uma pessoa iria querer sofrer?
Porque purgava, a pessoa se sentia aliviada, era como o perdão de Deus administrado aos poucos, em doses eletropáticas. No fim do dia a pessoa estava aliviadíssima, nem precisava mais tomar remédios, comprimidos aos montões para atravessar a atual vida estressante.
Pim, pim, pim.
Choque, choque, choque.
É esquisito, não é?, alguém ficar pedindo choques, como quem vai enfrentar as tropas de choques.
Os seres humanos são muito esquisitos.
O dono ficou riquíssimo.
Os ricos compravam por si mesmos, os escritórios eram abastecidos pelos empresários, nas repartições quem comprava era o governo – quem forneceria aos pobres? O governo, querendo ajudar, propôs a Cota Cadeira, uma cadeira por pessoa por lar (sem falar nas escolas, as crianças “estavam em choque”, viviam chocadas desde cedo), visando chocar os pobres e miseráveis. Claro, a maior parte das pessoas tinha culpa no cartório, vivia pensando impropriedades e nisso de purgar elas ficavam mais dóceis, mais manejáveis, dentro dos propósitos governamentais.
Serra, quarta-feira, 03 de julho de 2013.
José Augusto Gava.

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