Cadeira Elétrica
Virou moda.
Veja só como as coisas mais ridículas viram moda! Como aquelas das redes de televisão, como as da Revista Teja, as banalidades imitadas dos governantes e políticos, um milhão de coisas.
Neste caso um doido inventou uma cadeira que dava choques, mesmo através da calça-cueca ou do vestido-calcinha, fosse como fosse, dava choque. Com a particularidade de ela reconhecer os pensamentos errados, tecnologia baseada naqueles princípios esquisitos de Nicola Tesla, sei lá, doideira, mano. Em repartições governamentais ou consultórios de dentistas ou escritórios de empresas a pessoa sentava e do nada levava um choque.
Brando, tá?
Um choquinho de nada, só dava um tremelique, tremia um tiquinho e pronto. O caso é que isso acontecia quando a pessoa pensava alguma coisa errada, do tipo um homem pensar na mulher do próximo: “gostosona, seu eu pudesse pegava”.
Choque.
Ele sentia, ela via, sabia que era para ela, nem reclamava, porque soava como um elogio.
Você entrava numa repartição e via todo mundo tremendo o dia inteiro, era uma pulação só.
Por quê uma pessoa iria querer sofrer?
Porque purgava, a pessoa se sentia aliviada, era como o perdão de Deus administrado aos poucos, em doses eletropáticas. No fim do dia a pessoa estava aliviadíssima, nem precisava mais tomar remédios, comprimidos aos montões para atravessar a atual vida estressante.
Pim, pim, pim.
Choque, choque, choque.
É esquisito, não é?, alguém ficar pedindo choques, como quem vai enfrentar as tropas de choques.
Os seres humanos são muito esquisitos.
O dono ficou riquíssimo.
Os ricos compravam por si mesmos, os escritórios eram abastecidos pelos empresários, nas repartições quem comprava era o governo – quem forneceria aos pobres? O governo, querendo ajudar, propôs a Cota Cadeira, uma cadeira por pessoa por lar (sem falar nas escolas, as crianças “estavam em choque”, viviam chocadas desde cedo), visando chocar os pobres e miseráveis. Claro, a maior parte das pessoas tinha culpa no cartório, vivia pensando impropriedades e nisso de purgar elas ficavam mais dóceis, mais manejáveis, dentro dos propósitos governamentais.
Serra, quarta-feira, 03 de julho de 2013.
José Augusto Gava.
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