Céu de Brigadeiro
O coronel morreu e foi pro céu.
Chegando lá bateu na porta e um assessor do chefe de gabinete de São Pedro veio atender com o maior mau-humor. Era o terceiro secretário.
- Que é, hem?
- A triagem me enviou pra cá.
- Que triagem?
- A triagem que separa os maus dos bons, ué (era capixaba ou pelo menos residia aqui há bastante tempo).
- Ah. Bom, e daí?
- Daí que eu quero entrar.
- Bem, vamos ver, tá quase terminando o expediente, você escolheu uma hora ruim pra vir, né? 10 pras quatro.
- Não sabia que era horário bancário...
- É, sim, conseguimos depois da greve.
- E então?
- Então o quê?
- Vai me deixar entrar ou não?
- Preencheu a papelada?
- Que papelada?
- A papelada de Acesso às Áreas Privativas.
- Não sabia disso.
- Pois é, tem sim, três vias assinadas com firma reconhecida no Cartório do Céu.
- Ué, tem cartório aqui também?
- Primeiro, segundo e terceiro ofício. Não ouviu a música de Vinícius?
- Ouvi, sim, mas pensei que era brincadeira.
- Brincadeira... Rá. Rá e Rá. Preencheu?
- Não.
- Então? Volta segunda.
- Amanhã não funciona?
- Sábado? Rá. Rá e Rá.
- Pelo menos você pode dizer pra onde vou?
- Você era de que força?
- Exército, 38º Bi, coronel reformado.
- Então vai para o Céu do Exército, claro, ordem unida às 05h00min.
- Caramba, e aquele negócio de Paz Eterna? Tem de trabalhar?
- É mais propaganda. Política. Claro que tem! Tá pensando o quê?
- E aquele outro céu? (aponta).
- Ah, aquele bonitão? É Céu de Brigadeiro, não é pro teu bico.
Serra, terça-feira, 11 de dezembro de 2012.
José Augusto Gava.
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