Sunday, September 08, 2013

O Visionário (da série Ah Se Eu Te Conto)

O Visionário

- Oi, Tiago.
- Oi, Arimatéia.
- Que tá fazendo?
- Tava falando com um lunático ali, conhecido meu, mas não conhecido seu, daí tô indo à loja de construção civil.
- De repente...
- O Abreu.
- Não bateu nada.
- Zequinha de Abreu, mas não é aquele famoso, vai ver é homenagem.
- Assim de pronto não sei, não tô lembrando.
- Pois é, umas loucuras, cara, é demais.
- O quê?
- Ele diz que vem vindo uma tempestade, uma coisa assustadora no horizonte. Olhei e não vi nada.
- Pra que lado?
- Pra lá (aponta).
O outro firma o olhar, franze os olhos, perscruta, insiste.
- Nada, nada mesmo.
- Então, também não vi nada, mas ele é insistente, “lá, ó, lá, porra, olha direito”. Olhei, reolhei, não vi nada. Só não falei “tá doido” porque tava mesmo, não sou de ofender.
Disse, “ó, Zequinha, tenho mais que fazer, a patroa tá me esperando, não vai dar para ficar, tenho de buscar as crianças na escola”. Ele disse: “não é você que busca as crianças na escola, é a Laura”. Pra isso o filho da puta não tava doido. Falei “hoje é”.
Ele segurou a manga da minha camisa e insistiu.
Olhei. Nada mesmo, dei dois passos pra frente, nada.
- Ô, Zequinha, não tem nada lá, cara. Bem, pra encurtar depois de muito tempo conseguir sair, mas foi um custo.
- E onde você tá indo?
- À loja de material de construção, por via das dúvidas vou construir um subterrâneo, vai que ele consegue ver mais longe que a gente, né?
- Vou com você. Ele faz a prazo ou tem que pagar à vista? Neste instante estou desprevenido.
- Faz, faz, é meu amigo.
Serra, sexta-feira, 05 de julho de 2013.
José Augusto Gava.

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