Sunday, September 08, 2013

Oricoelementos (da série Ah Se Eu Te Conto)

Oricoelementos

O jornalista foi entrevistar do “podre de rico” sobre o que ele fazia para viver bem, como ele se cuidava.
O ricão entendeu errado.
JORNALISTA – o senhor toma vitaminas?
PUTREFATO DE RICO – tomo, tomo.
JORNALISTA – quais?
DECOMPOSTO DE RICO – vitamina A de automóveis, vitamina B de barcos, vitamina C de carros e assim por diante, vitamina D de diamantes.
JORNALISTA – não é bem isso.
PODRE DE RICO – não é?
JORNALISTA – não, senhor.
DETERIORADO DE RICO – seria o quê?
JORNALISTA – vitaminas que vem em vidros.
DESGASTADO DE RICO – ah, disso quem cuida é o médico, ele que calcula, faz medições, essas coisas que tomam tempo e causam aborrecimentos passo pros outros. Você perguntou o que EU fazia para viver bem e estou respondendo. Tem as vitaminas que são maiorzinhas, como vitamina M de mansões, vitamina T de terras, vitamina P de passeios (que a patroa aprecia particularmente), vitamina Po de política, vitamina S de sonegação e assim por diante. São essas maiorzinhas. Agora, das menorzinhas há os oricoelementos.
JORNALISTA – que são oricoelementos?
FÉTIDO DE RICO (com cara de “dai-me paciência, Senhor”) – são os equivalentes dos oligoelementos dos complexos vitamínicos.
JORNALISTA (sem querer discutir) – Ah.
PODRE DE RICO – são os o-ricos-elementos, microelementos dos ricos, nós-zinhos, a turma de cima, a rapaziada da alta, os micronutrientes dos ricos: um ovo Fabergé se eu puder roubar e colocar uma cópia no lugar, um quadro de pintor famoso descoberto num sótão e comprado barato, uma estatueta de quatro mil anos adquirida de algum idiota a preços módicos, uma obra de arte em ouro comprada de herdeiros sem noção, coisas assim, que nos alegram, você gasta um e lucra 200 ou 1.000, uma felicidade.
JORNALISTA – e isso existe, de gente dando tombo assim?
ARRUINADO DE RICO (os olhos fechadinhos de prazer, só uma fenda, um grande sorriso nos lábios, as maçãs do rosto sobem de satisfação) – ô, se existe, meu garoto, acorda!
JORNALISTA – não posso acreditar!
FEDORENTO DE RICO – azar o seu. Vê-se que você é pobre mesmo! Não diz que há coisas que o dinheiro não pode comprar? Então, nós roubamos.
JORNALISTA – estou passado!
FÉTIDO DE RICO – ainda bem que está passado, sobra mais presente pra nós.
Serra, segunda-feira, 08 de julho de 2013.
José Augusto Gava.

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