Sunday, September 22, 2013

Diálogo Interestelar VI - Hoje Amanheci Pegando Fogo... (da série Conto N'Ato)

Diálogo Interestelar VI: Hoje Amanheci Pegando Fogo...

DIALO-GAL
Pegando Fogo

Meu coração amanheceu pegando fogo, fogo, fogo
Foi uma morena que passou perto de mim
E que me deixou assim
Morena boa que passa
Com sua graça infernal
Mexendo com nossa raça
Deixando a gente até mal
Mande chamar o bombeiro
Pra esse fogo apagar
E se ele não vem ligeiro
Nem cinzas vai encontrar
Composição: José Maria de Abreu/ Francisco Mattoso

Precursora da MPBA (Música Prapular Baiana) em termos de aceitação, Vênus já saía no carne-val faz tempo.
VÊNUS (gritando, esfuziante, jogando os braços para cima) – hoje amanheci pegando fogo, fogo...
TERRA – tá que tá, né?
VÊNUS (irritantemente feliz) – me dei bem. Aliás, me dei demais, dei mesmo, e bem, e quem pegou, pegou mesmo de jeito. Estou quentíssima.
VÊNUS EXPLODE EM VULCÕES

TERRA (irritada por não pode cair na gandaia, por ter obrigações de mãe, por não ser solteira - debochada) – se acha, né?
VÊNUS (mais feliz ainda por provocar a Terra) – me acho e fui ACHADA.
PRÓXIMA – oi, crianças.
AS DUAS – oi, mãe, quando você vem morar aqui?
PRÓXIMA – logo, logo. O que aconteceu com Vênus?
VÊNUS – arrebentei, fui arrebentada.
VÊNUS, DAY
Eu Dei

Eu dei,
O que foi que você deu meu bem?
Eu dei,
Guarde um pouco para mim também,
Não sei, se você fala por falar sem meditar,
Eu dei,
Diga logo, diga logo, é demais,
Não digo,
E adivinhe se é capaz,
Você deu seu coração,
Não dei, não dei,
Sem nenhuma condição,
Não dei, não dei,
O meu coração não tem dono,
Vive sozinho, coitadinho, no abandono.
Eu dei,
O que foi que você deu meu bem ?
Eu dei,
Guarde um pouco para mim também,
Não sei, se você fala por falar sem meditar,
Eu dei,
Diga logo, diga logo, é demais,
Não digo,
E adivinhe se é capaz,
Foi um terno e longo beijo,
Se foi, se foi,
Desses beijos que eu desejo,
Pois foi, pois foi,
Guarde para mim unzinho,
Que mais tarde pagarei com jurinhos.
Eu dei,
O que foi que você deu meu bem ?
Eu dei,
Guarde um pouco para mim também,
Não sei, se você fala por falar sem meditar,
Eu dei,
Diga logo, diga logo, é demais.
Não digo,
E adivinhe se é capaz.
Composição: Ary Barroso

PRÓXIMA – hum, tô entendendo...
TERRA – mãe, não estimula, não, ela é da orgia, depois fica com a cabeça nas nuvens, escondida debaixo das cobertas.
VÊNUS – vou vegetar depois de vege-dar. Uau! Três uau! Cinco uau! Contando quarta-feira (estou que só cinzas) foram cinco dias.
PRÓXIMA – e você, minha filha, tá bem?
TERRA – tô, mãe. Estive pensando que aquela solução de acabar com meu problema de pele pode não ser boa, tenho pena dos bichinhos. Já mandei um aviso, eles estão sujando meus mares, vou dar uma esquentada deles, vou passar um calor, de repente eles entendem. E esses bichinhos mais recentes estão prejudicando os mais antigos, acho que vou dar uma balançada, por enquanto basta.
PRÓXIMA – você que sabe, querida.
TERRA – mãe...
PRÓXIMA – pergunte, querida.
TERRA – e a vovó Alcione? Papai nunca falou dela.
PRÓXIMA (cheia de dedos) – bem... eles estão meio afastados, estão um pouco distantes, mas é melhor a gente não tocar no assunto, na hora que ele quiser ele fala, tá bem?
TERRA – e qual a relação sua e de suas irmãs com ela?
PRÓXIMA – somos locatárias, ela aluga o espaço para a gente na fazenda.
TERRA – se dão bem com ela?
PRÓXIMA – superbem. Ela é muito bacana, é a matriarca, mas se mantém afastada de seu pai, fazer o quê, né?
ALCIONE COMO CENTRO

TERRA – uma hora eu pergunto.
PRÓXIMA – vá com jeito, minha filha.
Serra, quinta-feira, 29 de novembro de 2012.
José Augusto Gava.

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