Thursday, September 26, 2013

Epitáfio Pessoa (da série Conto N'Ato)

Epitáfio Pessoa

EPITÁFIO NO HOUAISS ELETRÔNICO
EPITÁFIO
substantivo masculino
1         inscrição sobre lápides tumulares ou monumentos funerários
2         Derivação: por metonímia.
a lápide contendo essa inscrição
3         enaltecimento, elogio breve a um morto
4        Rubrica: literatura.
tipo de poesia, nem sempre de inscrição lapidar, que encerra um lamento pela morte de outrem, ou com notada intenção satírica, que trata de um vivo como se estivesse morto

A TOTALIDADE DAS MORTES
DAS PESSOAS
DOS AMBIENTES
indivíduos
cidades-municípios
famílias
estados
grupos
nações
empresas
mundos

E não era de “falar qualquer coisa”, era certeiro, pesquisava, ia fundo, buscava os motivos, a linha de vida, o caminho na Terra. Não chegava de qualquer maneira e ia “dizendo o verbo” atabalhoadamente. Sentia-se coerência nele, preocupação, intensidade, envolvimento, compaixão. Não era mercenário da voz, como existem tantos por aí, de pastores a artistas.
Mormente intensidade.
Ele sentia mesmo empatia pela pessoa ou ambiente. É claro que uma cidade morrer era raro, mas empresas morriam aos montes, porque os hospitais do governo não eram muito preocupados com as altas taxas de mortalidade empresarial, daí muitas morrerem no primeiro ano e tantas mais até os cinco anos de idade.
Quando morria um grupo, quando as famílias que o compunham originalmente deixavam de se visitar, se distanciavam e o grupo falecia de ausências, ele pronunciava o epitáfio.
TUMBATIDA DOS TITÃS, INIMIGOS DOS OLIMPIRADOS
Epitáfio

Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...
Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração...
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor...
Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier...
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...(2x)
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr...

                        Quando havia divórcio, lá estava ele. Às vezes por pura amizade, quando um amigo se separava, ele vinha com aquela coisa profunda, densa em emoções, e a alma da gente sangrava de dor purgativa. Sentíamos escorrer da alma o pus da agonia, sofríamos, mas depois ficávamos bem. Era como um médico de nossos sentimentos, um psicólogo amador muito competente, sensível, solidário com nossas amarguras.
Dois anos que ele morreu, nem posso dizer a falta que ele faz para todos nós.
Serra, terça-feira, 20 de novembro de 2012.
José Augusto Gava.

No comments: