Saturday, September 28, 2013

Psicologia Heróica (da série Conto N'Ato)

Psicologia Heróica

A gente vê os super-heróis e não pensa nos padecimentos deles, entrar em fila de banco (como alter-ego, claro), descasamentos e pensões alimentícias, filhos pentelhando, gente que pára o carro em fila dupla e dificulta a saída do seu, vizinho com música alta no sábado ou domingo ou de noite, gente que esbarra com o carrinho no supermercado, cobranças duplas de produtos comprados, computador que não funciona ou é consertado por técnico sacana, sogra enchendo a cabeça da mulher, coisa que você compra pela Internet e não chega, guarda-roupa de aglomerado que se desfaz na primeira mudança, horário de verão e tudo isso que enche mesmo o saco dos heróis. Sem falar da inflação. Não se contando ainda chefe chato.
Para perguntar logo: você acha que é fácil os super-heróis apresentarem sempre aquela cara da bom-moço (ou boa-moça toda certinha) nas revistas quando estão trabalhando? É dureza, moço, não é a tranqüilidade que aparenta, de jeito nenhum.
A ALMA DOS HERÓIS É CORROÍDA PELA REALIDADE
SUPER
DÚVIDA
Arqueiro Verde
E se ele perder a mira? E se não conseguir inventar aquelas flechas diferentes? E se a flecha atômica jamais ficar pronta? Se ela não puder ser miniaturizada e ficar inviável lançar?
Batman
Vai poder tomar as cervejas no fim de semana ou será que vai dar barriguinha?
Homem Aranha
Cada teia projetada é dúvida atroz: grudará? Será resistente? Está engordando?
Hulk
Os músculos que ele adquire tão rápido vêm de bombas? Terá problemas de coração mais adiante?
Lanterna Verde
O verde provavelmente foi imposto, ninguém perguntou. E se ele gosta do marrom? Ninguém perguntou.
Mulher Maravilha
E se as unhas quebrarem enquanto ela estiver em missão? E o TPM maravilha?
Super-Homem
O super-ADRN dele se casará realmente com o ADRN simplesinho de Lois? Terão filhos?

Tenho pra mim que eles vivem nos psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, filósofos clínicos e assim por diante todo esse tempo em que não aparecem. Apesar dessa história de “ética profissional” e proteção da relação psicólogo-paciente e se por acaso alguém começar a publicar as análises feitas, nem que seja disfarçadamente sob a capa literária de invenção de pseudônimos? E se os psicólogos publicarem livro fazendo análise dos super-heróis?
É isso que provoca stress.
Serra, terça-feira, 27 de novembro de 2012.
José Augusto Gava.

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