Sunday, September 29, 2013

Diálogo Interplanetário IV (da série Já que Conto)

Diálogo Interplanetário IV

- Marte.
- Por quê você está sussurrando?
- A Lua não pode escutar.
- O quê?
- Não grite.
- Não estou escutando nada do que você está falando.
- Droga, droga. Acho que ela está com problema de bipolaridade.
- Merda, ou estou ficando surdo ou você está falando muito baixo.
- Acho que a Lua está bipolar. Quando ela sai do quarto crescente e fica cheia de si, fica esfuziante, toda alegre, brilhante, mas quando vai do quarto minguante para a Lua Nova, ela se esconde, fica oculta, entra em depressão, a gente não consegue vê-la, é horrível.
- E eu com isso? Ela é sua filha, quem pariu Maria que a embale.
- Você é cruel.
Marte, todo altivo:
- Sou o Deus da guerra, caramba! Não sou nenhuma florzinha. Vai pedir socorro a Júpiter de novo?
- Não. Pensa aí, me ajude nessa fase da Lua. Você não tem muita experiência (cutuca), só esses dois pirralhos adotados, mas mesmo assim.
- Não implica, não, senão deixo você falando sozinha. Por quê você sempre me chama, se Vênus fica mais perto? Aliás, vocês não eram as irmãzinhas prometedoras do Papai?
- Deixa de ciúmes. E procure ajudar uma vez que seja.
- Se continuar criticando, não ajudo.
- Tá, tá.
- Qual o problema?
- É que a Lua está com espinhas.
- O quê?
- Espinhas, espinhas.
- O quê? Não estou escutando de novo.
- Espinhas.
- Mãe, não fica de ti-ti-ti com o Tio, ele é fofoqueiro, vai contar praqueles pestinhas e eles vão entregar pra vizinhança. Eu não devia ter mostrado procê.
- Mas, minha filha, você não mostrou, todo mundo vê...
- Mãe... (começa a chorar).
- Tá vendo, Marte, o que você fez?
- EEEEUUUU?
- É, você falou alto, magoou a menina.
- Menina, menina. Você é cega e surda.
- Como assim?
- Faz tempo que tão pisando nela e você acha que ela é pura.
- Pisando?
- É pisando. Pisando, sim, sapateando, um monte.
- Minha filha...
- Ah, mãe, não foram tantos assim.
- Do quê seu Tio tá falando?
- Eu sabia, eu sabia (começa a chorar de novo).
Serra, quinta-feira, 27 de setembro de 2012.
José Augusto Gava.

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