Saturday, September 07, 2013

Teosofone VIII - O Eterno Retorno (da série Ah Se Eu Te Conto)

Teosofone VIII – O Eterno Retorno

Ele estava lendo a revista, as letras sumiram, apareceu o rosto barbudo e sorridente de Deus.
 - Oi, George. Estou vendo que desistiu de se esconder sob nomes estranhos. É o melhor, George, não valem a pena esses ocultamentos.
- Aceitei meu destino e estou até feliz.
- Porisso que estou rindo, George, essa coragem me encanta.
- Mas minhas memórias vão continuar me torturando, né?
- É, George, você não vai conseguir fugir. São suas, você deverá levar a toda parte, vai carregar no bornal. Isso de bornal é coisa da minha infância, de quando eu pescava piabas.
- Você teve infância?
- Não, George, é brincadeirinha, eu invento muito, você sabe, a eternidade é bastante tediosa, porisso invento os universos e VÁRIAS identidades, está coalhado por aí.
- Caramba, agora que me dei conta, você não teve infância, nem pai, nem mãe: é amargurado?
- Não, George, isso é modo de dizer. Krishna, uma das minhas identidades, diz “eu desço”, quer dizer, incorporo, entro aqui e acolá. Você sabe, diversidade. Como está levando?
- Estou bem, as memórias não me castigam tanto quanto antes, ainda dói saber da minha vida pregressa, de tudo de ruim que fiz, mas estou me acostumando.
- Vai na flauta, George, um dia de cada vez. Cada dia se basta a si mesmo, como disse Jesus.
- É outra das suas identidade?
- Não, não, é meu filho, gosto muito dele.
- Então é tudo verdade?
- É, eu gosto muito da verdade, não forma redes, nem máscaras, é fácil caminhar. Você deveria se esforçar mais nesse caminho, George.
- Estou tentando, estou tentando, um passo de cada vez, você mesmo disse.
- É isso mesmo, George, estou gostando de ver que você está caminhando firme, com convicção, não é nada forçado.
- Agora que aceitei, tô indo, tô conversando com o pessoal, ele acha esquisito essa conversão súbita, então não pego duro, vou manso, vou falando.
- Iêba! Aê, George, esse é o meu George. Você viu como eu tinha razão em apostar em você?
- Você tem alguma missão nova para mim? Tô doidinho pra trabalhar.
- Tenho, George, sabe aquelas crianças lá do Brasil no negócio dos 20 centavos? Como vai o seu português, avançou?
- Sim.
- Então...
Serra, quarta-feira, 10 de julho de 2013.
José Augusto Gava.

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