Cofre
Acordei, estava escuro.
Que breu!
Fiquei deitado curtindo o silêncio.
Que era bem intenso, profundo, não se ouvia praticamente nada.
Nunca na vida pude curtir um silêncio desses.
Obrigado, meu Deus, por essa dádiva, tantas vezes a gente não pode aproveitar as coisas devido à correria da existência!
Quando ocorre, a gente tem de saber aproveitar e por outro lado agradecer. Sentir-se grato é o mais importante.
Abri os olhos de novo.
Escuridão total.
Será que dá para acender a luz?
Acho que não.
Tentei levantar a cabeça, bati na madeira, caí de volta.
Tá meio apertado aqui, ainda bem que não sou claustrofóbico, fico bem em qualquer lugar.
Cheguei prum lado, madeira. Pro outro, madeira, madeira atrás, madeira na frente, madeira em baixo, madeira em cima, em todo lado madeira.
Caramba, tô morto.
Morto.
Mortinho.
Mortinho da Silva.
Completamente morto.
Agora que já identifiquei a situação, tá na hora de dar o fora.
Levantei a mão para atravessar a madeira, não deu, tem algo errado, parece que não deixaram nem uma brechinha, nem um buraquinho, nem uma fresta, puta merda! Tô preso. Quem foi o idiota que pregou o caixão? Tô vendo parafusos, que bosta. Aparafusaram. Super-aparafusaram, por sinal. É o cúmulo da estupidez. Como vou sair daqui? Porisso que não entra nem uma réstia de luz, sou uma alma enclausurada. Por quê acham que as almas vão logo embora? Deve ser pelo cheiro, né, seus estúpidos? Embora o corpo fosse meu, agora está apodrecendo, estou fudido.
É porisso que chamam de cofre.
Estou irremediavelmente preso. Será que algum anjo vem me resgatar? Se eu começar a gritar será que vão achar que o morto tá vivo? E se eu começar a balançar o caixão? Vou tentar pensar mais um pouco.
Serra, terça-feira, 11 de dezembro de 2012.
José Augusto Gava.
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