Saturday, September 07, 2013

Vale de Lágrimas (da série Ah Se Eu Te Conto)

Vale de Lágrimas

O proprietário do Vale de Lágrimas, vendo os preços subindo em virtude da valorização imobiliária (os desafetos chamavam de “especulação com terras”, aqueles desafetos desalmados, vadios), muito justa para quem tem terras a valorizar, decidiu fazer loteamento, porque sempre há entre os humanos quem goste de sofrer.
Sabe ali, entre as Montanhas da Solidão e o Platô dos Desesperados? Então. Logo depois dos Dias de Desassossego e do Rio do Abandono.
Há bastante gente interessada, dentre os que choram de barriga vazia e os que choram de barriga cheia, os dois times financiados pelos Pobres e os Ricos, dois grupos rivais.
Tentando atrair atenção já no lançamento o dono criou o Mise-Rave, uma festa Rave “da pesada” a que ninguém podia levar nada além de submetralhadoras, Kalashinikovs, revólveres automáticos. Granadas só molhando a mão dos trogloditas de chácara. Não pense que o pessoal dava mole, era tudo controladíssimo.
O Rio do Abandono deságua no Vale de Lágrimas.
É lindo, cheio de corredeiras, cascatas, gente se afogando ao cair dos barcos. Vem das montanhas, onde nasce, carregando as dores em grandes volumes. Quando há um desastre, digamos uma enchente com queda de barreiras devido à falta de atenção da Defesa Civil, o volume aumenta. Há nele uma volta bem perigosa, a Curva da Traição, que é melhor evitar.
Quando ao projeto em si, o proprietário faz questão de áreas gramadas na Planície do Desconforto, logo abaixo do Promontório do Golpe, penedia onde muitos enganados despencaram para a Clareira dos Desenganos e das Desilusões. À esquerda da Planície fica o lago das Promessas, onde vários foram enganados, pensando que dava pé, mas era fundo, foram pros fundos (como naqueles casos das empresas americanas e outras, que enganaram vários milhões através do mundo) hedge.
A empresa encarregada da construção foi a Baixarias S.A., da cidade de Baixaria Fluminense. Fez projeto, dando o melhor para si, subcontratando a Grande Porcaria Ltda., que subsubcontratou a Bobaginha ME (micro-empresa), que subsubsubcontratou a Melequeira MEI (microempreendedor individual), esperança do Brasil. A Melequeira foi de mal a pior, deu com os burros n’água, já que não tinha condições de comprar uma picape.
Quem tinha “comprado na planta” arrebentou-se, ficou só com o panfleto e nem pode reclamar PORQUE, seus trouxas, vocês tiveram o que quiseram, pagaram o pato e não comeram.
Não era pra chorar?
Serra, quarta-feira, 26 de junho de 2013.
José Augusto Gava.

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