O
Cansaço dos Velhos
Quando eu era jovem minhas
referências de velhice mais próximas eram meu pai (que morreu aos 61 em 1978) e
minha mãe (que morreu aos 77 em 2003).
Meu pai eu nunca vi reclamando, mas
minha mãe, sim, constantemente, a carga dela provavelmente era bem pesada.
Então, nos momentos de pânico ela dizia: “estou cansada” ou “vou embora”. Eu me
fazia de companhia dela, já que ninguém se importava mesmo a esse ponto, todos
ficavam constrangidos e tratavam de “puxar o carro”, saindo de fininho. Por vezes
ela dizia que iria sair caminhando e eu dizia que iria junto, sem falar de
quando afirmava ter vontade de se jogar da ponte do Rio Doce em Linhares.
Onde trabalho, certa mulher fala de
segunda a sexta, durante todo o horário de trabalho que está “cansada”.
O que quer dizer isso?
Não é cansaço físico, sem dúvida não
é, no trabalho pouco exigente que fazemos no Fisco. “Cansaço mental” não é
também, porque não vejo nenhuma dessas pessoas submetidas a estresse de
pensamento, nenhuma delas muito empenhada em investigações profundas e penosas.
É renúncia, é desejo de renunciar,
de abandonar os compromissos.
As pessoas “perdem o pique”, perdem
o interesse, suas mentes atolam na realidade, já não possuem satisfação em
nada: elas pensam (como essa mulher) que ficarão à toa quando aposentadas, que
seria melhor após a aposentadoria, mas não será, porque não é a falta de
oportunidade, é falta de SENTIDO DE VIDA, orientação da existência – ter mais
tempo só significará mais desorientação, mais falta de sentido, mais minutos
acordada sem ter o que fazer. A pessoa pode ler livros, pode assistir filmes,
pode ir ao centro de compras (shopping center) e não vai adiantar, uma hora
chega a renúncia.
Como aconselhou Cristo: sede como
crianças.
De espírito sempre renovado, sempre
curiosas.
Na falta disso, chega o “cansaço”, a
renúncia à vida, o desassossego quanto a em que empregar o tempo de vigília.
Alguns poderiam chamar de “tédio”, mas também não é, não é apenas a repetição, pois
repito ano após ano a leitura e nunca me canso, a vida sempre é cheia para mim.
Acho que é o “cansaço”, a renúncia
que leva ao alemão, ao Alzheimer, à doença do desmemoriamento.
Infelizmente as escolas não
ensinaram interesse.
A título de falar do processo de
desperdício americano, certo texto colocou que eles jogam fora todos os anos 3
milhões de livros, enquanto compram dois bilhões em igual período, o que dá
relação de 3/2.000 ou 0,15 %, bem pouco, pouquíssimo. É certamente um povo
extraordinário: em 30 anos, uma geração, acumulam 60 bilhões de livros, tanto
quanto 200 livros para cada um dos 300 milhões de habitantes. É absolutamente
fantástico. E, não obstante, lá há grande número de indivíduos sofrendo de Alzheimer.
Como entender uma coisa dessas? Sem dúvida nenhuma é uma sociedade que está
precocemente se tornando gagá, pelo menos parte dela.
Vitória, sexta-feira,
17 de setembro de 2010.
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