Os
Herdeiros da Honestidade
Assim como a
intenção/necessidade de liberdade cria a liberdade e esta o prazer da liberdade
(0, 1, 2, 3) pago pelos consumidores de moda, a honestidade é produzida por
uns, mais firmes, e herdada por outros:
0.
pais
e mães da honestidade (os pioneiros que desbravam o terreno);
1.
filhos
e filhas da honestidade (os que já encontram pronto);
2.
netos
e netas da honestidade (os que a gozam desbragadamente, os que, como diz o
povo, “metem o pau”);
3.
bisnetos
e bisnetas, que não se lembram da dificuldade em conseguir e se voltam para o
contrário.
O DICIONÁRIO TEM DOIS LADOS (aliás, tem
quatro)
LADO RUIM
(são os vagões,
os que são levados, os aproveitadores)
|
LADO BOM
(são as
locomotivas, os que levam, os proporcionadores)
|
||
negadores da
liberdade
|
aproveitadores da
liberdade
|
vivenciadores da
liberdade
|
precursores da
liberdade
|
3
|
2
|
1
|
0
|
que a estão
perdendo
|
que tem liberdade
|
que tem confiança
|
que tem amor
|
DESALINHAMENTO
|
LIBERDADE
|
CONFIANÇA
|
AMOR
|
Quem é honesto está
produzindo um gênero de verdade, de confiança no próximo, assim como que produz
liberdade. Como todo capital, o que é acumulado no lado bom do dicionário é
gasto progressivamente até ser totalmente dilapidado.
O que é precursor
da liberdade, da honestidade, da lealdade, da urbanidade e de todas as coisas
boas? É o amor, um gênero de confiança que não depende do exterior, não nasce
de fora, nasce dentro. Precursora da liberdade é a confiança (a Clarice
Lispector dizia que tinha procurado a vida inteira até encontrar um tesouro
dentro de uma caixa, que constava de uma única palavra: confiança) e precursor
da confiança é o amor (como dizia São Paulo).
Quando vemos um
mundo em que a desonestidade, a anti-liberdade, a deslealdade e outras
deformações do lado ruim estão dominando, podemos dizer que as gerações
anteriores gastaram prodigamente as energias das locomotivas e que os trens
começam a recuar para a autodestruição, como neste nosso momento. Nesses mundos
degenerados as pessoas que vivem são as daquela gente-umbigo de que já falei
nas cartilhas.
Como sempre, os
herdeiros são pessoas mimadas que não souberam de onde veio e quanto custou
ganhar a liberdade, ganhar a honestidade, ganhar a lealdade, ganhar a
fidelidade.
Então, fica para a
geração seguinte pagar novamente o preço.
Serra, segunda-feira,
12 de setembro de 2011.
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