O Toque Fundamental
de π
EIS AS NOVAS NOTAS (como curiosidade,
três das antigas estavam erradas; provavelmente isso veio das escolhas das
frações)
NOTA
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NOVA f
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: 256
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: 0,125 (FICA)
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FRAÇÃO
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BASE 7 (8-8)
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dó
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256
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1,000
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8
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8/8 = 1
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0
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ré
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288
|
1,125
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9
|
9/8
|
1
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mi
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320
|
1,250
|
10
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10/8
|
2
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fá
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352
|
1,375
|
11
|
11/8
|
3
|
sol
|
384
|
1,500
|
12
|
12/8
|
4
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lá
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416
|
1,625
|
13
|
13/8
|
5
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si
|
448
|
1,750
|
14
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14/8
|
6
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Matemática e
música
Giuseppe Milone
Embora música
e ciência sempre tenham tido tudo a ver uma com a outra – o parentesco entre
elas não só é conhecido desde a Antiguidade como talvez remonte às suas
próprias origens –, os músicos tendem a adotar atitudes pragmáticas quanto à
produção do som. Ao contrário do que ocorre com o engenheiro, cujas ligações
com a matemática são bem conhecidas e largamente aceitas por todos, o músico
frequentemente esquece que física e matemática podem ser muito úteis,
fornecendo-lhe modelos funcionais que explicam e permitem explorar melhor os
fenômenos costumeiramente vistos como tipicamente sonoros. Em termos matemáticos,
por exemplo, enquanto a álgebra e a aritmética definem algumas relações e
proporções entre os sons e os meios emissores que os produzem, a geometria
permite estabelecer as formas dos instrumentos em função das sonoridades que
deles se esperam.
As primeiras
associações formais da matemática com a música ocorreram na Grécia. Por volta
do século VI a.C., a escola místico-matemática de Pitágoras de Samos supõe
haver relações inteiras entre harmonia (no sentido filosófico) e relações
harmônicas de sons.
As pesquisas
musicais de Pitágoras basearam-se no monocórdio, uma corda distendida sobre
duas pontes, cuja mobilidade permite variar o comprimento da corda e o som
que ela emite. Uma de suas primeiras constatações foi que a altura do som
emitido por uma corda vibrante é inversamente proporcional a seu comprimento,
que aumentar o tamanho da corda torna o som mais grave e encurtá-la, torna-o
mais agudo. Logo, para abaixar ou elevar determinado som basta aumentar ou
diminuir o comprimento da corda que o emite (isso, é claro, pressupõe cordas
de massa uniforme e tensão constante).
E a obsessão
de Pitágoras pelos inteiros levou-o a fixar-se nos sons emitidos por uma
corda e por sua metade: ele concluiu que os sons são quase idênticos, que
dividir uma corda ao meio gera “sons harmoniosos”. E ele constata haver
outras divisões das cordas que geram outros sons com essa característica.
Mais exatamente, os sons produzidos por dois terços e por três quartos das
cordas também eram agradáveis ao seu ouvido (em termos modernos, eles
equivalem à quinta e à quarta do som fundamental da escala maior; na escala
de Dó maior, correspondem às notas Sol e Fá).
As
experiências de Pitágoras com o monocórdio não só constituem uma das
primeiras tentativas de expressar fenômenos da natureza em números, como as
relações que ele obtém – relações posteriormente denominadas “consonâncias
pitagóricas” – terão grande influência não só em sua escola, mas em toda a
teoria da música ocidental. Os novos sons se relacionarem com os primeiros por
meio de frações formadas por números naturais sustentava a tese pitagórica de
que tudo no Universo pode ser relacionado aos naturais, que nele “tudo é
número e harmonia”. E um dado que reforça a crença de que a música
(harmoniosa) está em correspondência com a aritmética das frações é a soma da
quarta com a quinta ser igual a oitava (na sequência Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá,
Si, Dó é fácil constatar que a quarta nota após o Dó é o Fá e que a quinta
nota após o Fá é o Dó). Em termos matemáticos, considerando a divisão da
corda que dá esses sons, essa relação é expressa por (2/3)(3/4) = 1/2.
E as relações
entre as frações das cordas revelaram outros vínculos entre matemática e
música. Na música, o átomo é o tom; na música ocidental, define-se tom como a
diferença entre uma quinta e uma quarta. Se a matemática estiver certa, se a
soma da quarta com a quinta equivale ao produto das frações que lhes
correspondem, então a diferença entre elas deve ser dada pelo quociente das
mesmas frações. Se uma for a inversa da outra, então o tom é dado por
(2/3):(3/4) = (2/3)x(4/3) = 8/9. Ou seja, o tom é gerado por uma corda com
comprimento igual a 8/9 do comprimento daquela que produz o som fundamental.
E se assim for, a mera repetição desse processo retorna toda a gama das notas
de uma escala musical. Na terminologia atual, o comprimento da corda ré
corresponde a 8/9 da corda afinada em dó e o mi, a (8/9)(8/9) =
(8/9)2 = 64/81 dessa mesma corda. O fá, a quarta, é dado
por três quartos daquela corda e o sol, a quinta, por dois terços. Em
sequência, o lá é dado por (2/3)(8/9) = 16/27 e o si por
(2/3)(8/9)2 = 128/243 do mesmo comprimento. O dó uma oitava
acima é dado pela metade do comprimento da corda. E se o sistema for de fato
coerente, os semitons serão iguais. Os intervalos de meio tom, de mi
para fá e de si para dó, serão dados por (1/2)(243/128)
= (3/4)(81/64) = 243/256. No sentido inverso, 6/5 da corda que produz o Dó
gera o Lá, 3/2, o Fá, 16/15, o Si e 2, isto é, o dobro da corda, um Dó uma
oitava abaixo.
Segundo os
pitagóricos, a quinta, representada pela fração 2/3, é mais harmoniosa que a
segunda, representada por 8/9 e ambas bem mais harmoniosas que a sétima,
expressa por 128/243. Isso sugere haver relação inversa entre complexidade
matemática e agradabilidade musical. A regra geral parece ser que quanto mais
simples a fração associada ao intervalo, mais harmônico ele parece; o fato
concreto que sustenta essa proposição é que o mais harmônico de todos os
intervalos está associado à mais simples das frações: a oitava corresponde à
fração 1/2. Em 63 a.C., Dydimos acolhe esse princípio e propõe a gama
diatônica, constituída por frações mais simples que as previstas pelos
pitagóricos. No século XVIII, Bach defende a gama temperada (escala cromática
ou bem-temperada), em que a corda é dividida em doze semitons iguais, em
intervalos cujo produto é exatamente igual a 1/2 (nela, o semitom é dado pela
raiz duodécima de dois).
Para os
pitagóricos, a oitava, a quinta e a quarta, representadas pelas frações 1/2,
2/3 e 3/4, eram harmonicamente perfeitas. E essas relações não se restringiam
à música; elas se estendiam ao Universo, dividido em três esferas cujos raios
se encontravam nessas magníficas proporções. Para eles, as esferas que
constituíam o Universo estavam dispostas segundo sua perfeição harmônica, que
era: primeira esfera: Terra e pela Lua; segunda esfera: céus móveis e
estrelas fixas; terceira esfera: o Olimpo. E tais proporções, difundidas por
Platão no Livro X d’A República, foram replicadas na construção de
diversos templos e catedrais, entre eles as de Chartres e de Santa Maria
Novella, em Florença, e a de Santo Francesco della Vigna, em Veneza.
O vínculo
entre intervalos musicais e teoria do Universo fez com que os pitagóricos
tratassem a música como ramo da matemática (mais exatamente, eles dividiam a
matemática em aritmética, geometria, música e astronomia). Algo estritamente
matemático que eles atrelaram à música foi a média harmônica. Inicialmente
chamada de subcontrária, ela foi rebatizada para harmônica quando constataram
que a danada definia as subdivisões harmônicas das cordas distendidas.
Em termos
modernos, os sons são vinculados às vibrações das partículas de ar que
atingem o ouvido de boa parte dos seres vivos. Mas essa ideia também parece
remontar aos pitagóricos, a Filolaus ou Arquitas de Tarento (430-360 a.C.),
que observaram que o som decorria de pulsos de ar. E a analogia entre
propagação do som e ondas produzidas por objetos atirados na água foi
antevista pelo estoico grego Crisipo (280-202 a.C.) e defendida pelo
arquiteto romano Vitrúvio, isso já no século I d.C. Dela decorre a moderna
ondulatória, que prova que as relações estabelecidas pelos pitagóricos valem
tanto para os comprimentos das cordas quanto para as razões entre as
respectivas frequências por unidade de tempo. Disso se conclui, por exemplo,
que se a frequência do Lá central de um piano for de 440 Hz, a frequência do
Lá seguinte será de 880 Hz, do próximo, 1760 Hz etc. Isso se ele estiver
muito bem afinado, é claro.
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[como se pode ver, 1 deveria ser 8/8 e as
demais frações 9/8, 10/8 e assim por diante; houve uma distorção, ainda por
explicar]
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POR OUTRO LADO,
PARA TOCAR π
(devemos inserir as notas-matemáticas e não as notas musicais tal como são
agora) – tirado e modificado de Encontrando as Notas e Tocando π,
que por sua vez veio de outros, anteriores e muito anteriores.
3,141592... NOTAS (convertido para a
base 7)
AS NOTAS COMPARADAS COM OS NÚMEROS DA
BASE 7
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TOCANDO π NA BASE
7 EM FREQUÊNCIAS EM HZ
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Há uns 20 anos, estava dormindo na casa do
casal nosso amigo PACOS e K quando tive um sonho no qual, insistentemente,
diziam: “emita em 3 MHz” (três milhões de Hz). A faixa das FM vai de 88 a 108
MHz, muito acima de 3 MHz. Perguntei ao professor-doutor de física na UFES,
agora vice-reitor RC, e ele disse que nessa faixa dos 3 MHz as perdas manteriam
o sinal dentro da atmosfera, ele não sairia para entrar em contato com alguma
presumida civilização extraterrestre.
Agora penso que a emissão encontrará algum
mecanismo à espera DENTRO DO PLANETA e ele reemitirá para o espaço numa
frequência bem característica, capaz de vencer longas distâncias (para sair do
planeta as FM o fariam, bem como toda emissão acima delas, mas do outro lado o
canal receptor não estaria preparado para notar).
Serra, quinta-feira, 18 de agosto de 2011.
José Augusto Gava.
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