Saturday, November 30, 2013

O Pó que Eu Consumia e Tanto Bem me Fazia (da série Cometários)


O Pó que Eu Consumia e Tanto Bem me Fazia

 

É pó de café.

O café tem bonita geo-história, desde quando levou a ligas combatendo o seu uso até a atualidade do seu pleno domínio mundial.

Só que não conhecemos mesmo os detalhes que adviriam das pesquisas de alguém dedicado, da academia ou de fora dela, jornalista ou geo-historiador que consagrasse, longamente de preferência, seu tempo a esmiuçar.

Uns dizem que faz mal, outros que faz bem.

OS PÓS...
... E OS CONTRAS
DO BOM
DO MAL
Starbucks

De onde vem os melhores cafés, hoje?

Quais os mais caros e os mais baratos?

Penso que há tantas perguntas feitas e não feitas que toda uma enciclopédia com DVD atualizável via Internet poderia falar dele indefinidamente.

Café virou cultura, é ponto de encontro onde há cultura, principalmente na Europa.

Cafés de lá colocam mesas nas calçadas amplas: a gente vê nos filmes. Há cafés caros e caríssimos, há a Starbucks, que sendo americana e não brasileira faz um dos melhores cafés do mundo (segundo dizem, nunca provei). Há cafés solúveis e cafés em grãos, há os cappuccinos (inclusive fórmulas preparadas em casa), o café é posto à venda em kg e saches, há de tudo.

Crianças (erradamente) bebem e velhos de 100 anos bebem também.

O ES, um estado pequenininho, de 45,6 mil km2, é grande produtor mundial e o principal do Brasil em conilon, o café-tinta de que se faz o café solúvel muito forte e é acrescentado ao arábica para dar cor.

Tanto o pó quanto o grão, tanto o fruto verde quanto maduro encantam. Sacos de café são fetiches, pilas de café fazem parte de nossa cultura brasileira, capixaba e de Burarama, o lugar dos meus parentes.

Como um pó pôde ter ficado tão famoso assim?

NO ENTANTO

1.       os melhores cafés do mundo não são brasileiros;

2.       as melhores máquinas de café são italianas;

3.      as melhores cafeterias são americanas;

4.      os melhores cafés são colombianos ou africanos ou asiáticos ou sei lá o quê;

5.      no Brasil não há cafeterias com cadeiras nas calçadas nem cultura associada.

Somos displicentes.

Em 2006 foram produzidas 44 milhões de sacas no Brasil, das quais foram exportadas mais de 27 milhões (além de 60 %), gerando receita de 3,3 bilhões de dólares (a 1,75 real/dólar daria agora 5,775 bilhões de reais). Cada saca brasileira tem 132 libras, cada libra 453 g, então cada saca tem 59,796 kg, quase 60 kg. Tomando este valor e dividindo 5,775 bilhões de reais por 27 milhões de sacas de 60 kg cada obtemos R$ 3,56/kg exportado, que é mais ou menos o que pagamos no supermercado por 500 g (ou até o dobro, quer dizer, R$ 4,00 por 500 g ou R$ 8,00 por 1.000 g), só que pó torrado e moído, por vezes com milho, galhos, folhas e sabe-se lá o que mais, ao passo que o exportado é puro e da melhor qualidade.

No ES, a safra projetada é de 11 milhões de sacas, ocupando diretamente 300 mil pessoas na colheita (fora transportadores, pessoal de porto e outros) em 500 mil hectares plantados ou cinco mil km2, 1/9 do território capixaba. Proporcionalmente no Brasil seriam 1,2 a 1,5 milhões de indivíduos, seria preciso apurar.

Veja só quanto o café vale e quão pouca importância damos a ele hoje em dia! Não há, que eu conheça (mas não conheço muito), museu-biblioteca do café, nem há desenvolvimento de máquinas no ES, nem patentes novas, nem livros realmente atraentes.

Serra, sábado, 18 de setembro de 2010.

No comments: