A
Mulher Como Fonte de Perfumes
Como foi se montando o cenário no
Modelo da Caverna para a Expansão dos Sapiens (MCES), as mães-mulheres tomavam
conta de 80 a 90 % de todos (50 % eram elas; 25 % eram os garotinhos; mais anões,
deficientes físicos e mentais, velhos, guerreiros em processo de cura), de modo
que qualquer caverna ficava entupidíssima de gente de noite, pois de dia a
maior parte se espalhava no terreirão defronte com gatos e cachorros de boca
pequena.
Devia se um auê danado!
Uma confusão absolutamente
espantosa, uma gritaria fenomenal, exceto quando vinham os predadores.
E quando, de noite, todos se
recolhiam na caverna, não podiam urinar, não podiam conversar, não podiam
feder, pois isso atrairia as feras (a seleção natural foi impedindo a procriação
das mulheres que suavam muito); e não podiam se mexer, pois era apertado,
apertadíssimo, cada lugar sendo disputado, tudo patrulhado pelos cachorros de
boca pequena e os gatos que perseguiam os temidos insetos, as cobras e os lagartos,
as aves pequenas sorrateiras que bicariam as têmporas dos bebês e assim por
diante.
O sono das mulheres, particularmente
o das mães era super-estremecido, muito leve, sujeito a contínuos despertares
para a vigilância dos queridinhos (as menininhas, como sempre, eram abandonadas
e deviam “se virar” por conta própria, cuidando de si e dos irmãos menores). O
sono delas era levíssimo, pois tudo era predador nas redondezas, a começar dos
insetos, muitos milhares de espécies a mais naqueles tempos, antes de elas
terem destruído seus habitats em volta da Caverna geral, criando o Terreirão
geral.
Então, de tempos em tempos, vinham
os caçadores homens, fedidos e cabeludos e ao mesmo tempo necessários e
desejados para a procriação: como conviver com isso? O jeito, é claro, foi inventar
a perfumaria inicial com os cheiros oferecido pela Natureza e besuntar os
homens até eles voltarem às caçadas, tornando-os toleráveis.
Claro, nas caçadas os homens tinham
de “cheirar” como a Natureza mais vasta, imergindo nas fezes dos predadores
mais ferozes; ou de qualquer modo misturando-se com o não-humano, de modo a não
atraírem para si a ira dos inimigos, até os lobos serem reinventados como cães
e nos libertarem daquele pavor antigo. Antes disso o mimetismo-por-odor
(chamemos assim) era o usual, o uso comum e só depois do aparecimento das
primeiras matilhas os homens puderam tirar a camada de fedor.
Então, coube à mãe-mulher a invenção
desse gênero de perfume-de-aceitação, digamos desse modo; ao passo que o
perfume masculinizante foi invenção dos pais-filhos (elas gostam deste, os
cheiros crus dos homens).
Vitória, domingo, 08 de outubro de
2006.
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