Sunday, December 15, 2013

A Mulher Como Fonte de Perfumes (da série Material Sensível, grupo MCES Modelo da Caverna para a Expansão dos Sapiens)


A Mulher Como Fonte de Perfumes

 

Como foi se montando o cenário no Modelo da Caverna para a Expansão dos Sapiens (MCES), as mães-mulheres tomavam conta de 80 a 90 % de todos (50 % eram elas; 25 % eram os garotinhos; mais anões, deficientes físicos e mentais, velhos, guerreiros em processo de cura), de modo que qualquer caverna ficava entupidíssima de gente de noite, pois de dia a maior parte se espalhava no terreirão defronte com gatos e cachorros de boca pequena.

Devia se um auê danado!

Uma confusão absolutamente espantosa, uma gritaria fenomenal, exceto quando vinham os predadores.

E quando, de noite, todos se recolhiam na caverna, não podiam urinar, não podiam conversar, não podiam feder, pois isso atrairia as feras (a seleção natural foi impedindo a procriação das mulheres que suavam muito); e não podiam se mexer, pois era apertado, apertadíssimo, cada lugar sendo disputado, tudo patrulhado pelos cachorros de boca pequena e os gatos que perseguiam os temidos insetos, as cobras e os lagartos, as aves pequenas sorrateiras que bicariam as têmporas dos bebês e assim por diante.

O sono das mulheres, particularmente o das mães era super-estremecido, muito leve, sujeito a contínuos despertares para a vigilância dos queridinhos (as menininhas, como sempre, eram abandonadas e deviam “se virar” por conta própria, cuidando de si e dos irmãos menores). O sono delas era levíssimo, pois tudo era predador nas redondezas, a começar dos insetos, muitos milhares de espécies a mais naqueles tempos, antes de elas terem destruído seus habitats em volta da Caverna geral, criando o Terreirão geral.

Então, de tempos em tempos, vinham os caçadores homens, fedidos e cabeludos e ao mesmo tempo necessários e desejados para a procriação: como conviver com isso? O jeito, é claro, foi inventar a perfumaria inicial com os cheiros oferecido pela Natureza e besuntar os homens até eles voltarem às caçadas, tornando-os toleráveis.

Claro, nas caçadas os homens tinham de “cheirar” como a Natureza mais vasta, imergindo nas fezes dos predadores mais ferozes; ou de qualquer modo misturando-se com o não-humano, de modo a não atraírem para si a ira dos inimigos, até os lobos serem reinventados como cães e nos libertarem daquele pavor antigo. Antes disso o mimetismo-por-odor (chamemos assim) era o usual, o uso comum e só depois do aparecimento das primeiras matilhas os homens puderam tirar a camada de fedor.

Então, coube à mãe-mulher a invenção desse gênero de perfume-de-aceitação, digamos desse modo; ao passo que o perfume masculinizante foi invenção dos pais-filhos (elas gostam deste, os cheiros crus dos homens).

Vitória, domingo, 08 de outubro de 2006.

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