A
Poderosa Memória das Mulheres
Do Modelo da Caverna para a
Expansão dos Sapiens despontou uma realidade muito maior do que a que vinha
sendo displicentemente apresentada a nós durante todas essas décadas desde a
descoberta das cavernas onde habitaram nossos antepassados, a partir de quando
seus moradores espertíssimos passaram a ser chamados de “trogloditas” (no
Aurélio Século XXI: Do
gr. troglodytes, pelo lat. troglodyta. Adj. 2 g. 1. Que vive debaixo da terra
ou em cavernas. g. 2. Pessoa que vive
sob a terra. 3. Membro de comunidade pré-histórica que habitava em cavernas; no Houaiss digital: n adjetivo e
substantivo de dois gêneros relativo a
ou indivíduo dos trogloditas, povos da África que habitavam em cavernas, em
especial os habitantes da Troglodítica), com a conotação desprezível de atrasados,
primitivos. Não eram, de modo nenhum, até porque não podiam ser, estavam no
limiar do seu tempo, faziam o máximo de esforço, enfrentavam dificuldades
espantosas com valentia e garbo.
Em especial,
como já vimos repetidas vezes, os homens caçadores (machos e pseudofêmeas; num
grupo pequeno havia pouquíssimas destas, se havia alguma, pois é estatístico –
amas é interessantíssimo que a Natureza tivesse preparado essa válvula que não
está superafirmada nas outras espécies) eram somente 10 a 20 %, enquanto as
mulheres coletoras (fêmeas e pseudomachos) administravam o grupão de 80 a 90 %
(logo para começar, 50 % de mulheres; 25 % de garotos; velhos, guerreiros em
processo de cura, aleijados, anãos e anãs; cachorros de boca pequena, gatos e a
criação inicial, fora a coleta e as plantações primitivas). Nas relações
percentuais teríamos de (90/10 =) 9/1 a (80/20 =) 4/1, fora a posição de todas
as árvores de frutas, de casca, de madeira, todos os locais de coleta de tubérculos,
os rios e córregos das redondezas, as estações, as relações de dominância com a
mãe dominante e seu grupinho, tudo que foi colhido e armazenado e assim por
diante uma quantidade espantosa de dados a catalogar.
Assim sendo, a
memória delas não é como a nossa, é muitíssimo mais poderosa, de um modo que
não podemos saber. Logo para começar é mimética, imita a inteligência intuitiva
dos homens, é o que chamei de inteligência-memória, a especialização que só
existe em nossa espécie, porque as mulheres dominaram a humanidade pelo menos
uns cinco milhões de anos durante a fase hominídea (de 10 milhões), durante a
faixa dos nemay (neandertais de EMAY, Eva Mitocondrial + Adão Y) desde 200 mil
anos passados e grande parte dos 80 a 70 mil anos dos cro-magnons, até que
houve o assentamento nas cidades, a primeira das quais Jericó, de 11 mil anos
atrás. Talvez elas tenham começado a perder o poder quando aceitaram (e foram
obrigadas a aceitar em vista do crescimento que introduziram, tendo mais filhos
e fazendo-os sobreviver mais) sair das cavernas para as pós-cavernas, as
pré-cidades e as cidades. Então os homens tomaram o poder, que tem no máximo
algumas dezenas de milhares de anos.
Assim, nós
homens não sabemos mesmo o que é essa memória.
Ela não se assemelha
a isso que é o nosso “recordar”, a memória masculina, que é lembramento pobre e
canhestro das coisas, memória como “coisa que se apresenta em um dado momento”,
é muito mais – é essencialmente planejamento e conspiração, é vir de trás,
estar agoraqui superantenada e ir para frente, é compromisso, é muita coisa que
os pesquisadores descobrirão.
Não tem nada a
ver com essa coisinha fraca do nosso lado.
É instrumento de
sobrevivência da espécie para 80 a 90%.
É com isso que
estamos lidando sem saber.
Vitória,
domingo, 20 de março de 2005.
José Augusto
Gava.
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