A Voz da Mulher
Se
o Modelo da Caverna é correto, se segue que as tarefas eram distintas
para homens e mulheres, aqueles caçadores e estas coletoras, gerando dois modos
de fazer tudo, duas almas bem distintas.
Tendo que
cuidar das crianças, que eram então em muito maior número (de todos os tamanhos
e idades) que agoraqui, as mulheres desenvolveram mecanismos corpomentais
diversos.
Imagine
um grande grupo de mulheres dando à luz continuamente, com um bando enormíssimo
de crianças, todas verdadeiramente estocadas e entocadas na caverna e nas
vizinhanças. Era preciso treinar essas crianças, meninos e meninas, para a vida
jovem e para assumir a maioridade.
Com que
Voz (em maiúscula conjunto ou grupo ou família de vozes) geral? Com que Língua
geral? O que chamei de Língua das Mulheres, por oposição/complementação
da Língua dos Homens. Essa língua relativa às mulheres deve ser tal que
comande grande número de pessoas, a mulher mais velha da grota ou caverna ou da
tribo sendo capaz de dominar a todos.
Deve
ser verdade também que às mulheres cabia a organização das cavernas, porque se
os homens estavam fora caçando, obviamente não iriam ter tempo de colocar cada
coisa no lugar escolhido, no “seu lugar”, correspondência biunívoca.
Então as
mulheres devem ser sociólogas POR NATUREZA, isto é, por direito de evolução,
organizadoras.
Acresce
também que devem ter VOZ DE COMANDO, sozinhas ou juntas, mais juntas que
sozinhas, a mulher mais velha de todas mandando no ambiente de mulheres,
isto é, onde só existam mulheres ou a estas todas quando os homens não estejam
em maioria ou quando elas não decidam obedecer a eles, por seus interesses,
confessos ou não. Enfim, AS MULHERES FUNCIONAM COMO GRUPO, que é na Rede
Cognata cognato de CASA. A casa realmente é das mulheres.
Resulta
que os meninos são equiparados a meninas até certa altura. Daí a brincadeira
dolorosa de adolescência, quando um adulto diz (sempre com voz grossa): “faz
voz de homem, rapaz”.
Quando é
que os meninos deixam de ser meninas?
O chamado
Rito de Passagem não é apenas passar de menino a guerreiro, é ADQUIRIR VOZ DE
HOMEM, deixar de ser mulher, deixar de ser dominado pela voz da mãe e de todas
as mulheres, até as estranhas, de outras tribos. Daí que aqueles que moram com
a mãe até tarde sejam julgados boiolas, afrescalhados: esse é um índice
poderoso.
No
rito de passagem o menino (os judeus aos 13 anos, os ocidentais aos 15 ou aos
18) adquire sua VOZ, sua língua de homem, mas também o direito de ter uma
mulher por perto que comande a casa, quer dizer, ele é certificado a procriar
UMA CASA, não só a família, mas também posses, crescimento, independência, tudo
isso. Então ele se livra das vozes das mães, das tias, das avós, das matriarcas
e até das irmãs e primas que até então mandavam nele, com os segredos que
sutilmente aprenderam de suas parentes.
Se
tudo isso for verdade, devem existir provas no ambiente, restos lingüísticos
que podem ser traçados, experiências que podem ser preparadas.
Quantas
centenas de teses de mestrado e doutorado, só aqui!
Pense
o que seja essa língua: que entonações, que palavras são as de poder, de
domínio, de irretratável urgência, de quietação, de tolher a vontade, de fazer
sucumbir as iniciativas diante de perigo iminente?
Pense na
riqueza dessa coisa!
Fico
emocionado com as possibilidades das vertentes.
Vitória, sexta-feira, 29 de novembro
de 2002.
No comments:
Post a Comment