A
Psicologia das Compras no Modelo das Cavernas
Vi no People
& Arts, um dos canais Discovery, parte de uma reportagem com um psicólogo americano que
investigou homens e mulheres fazendo compras e descobriu que as mulheres
vasculham lentamente, investigam antes de comprar, ao passo que nós homens
vamos às compras como que à guerra: entramos, tiramos e fugimos, com tantos
batimentos cardíacos quanto pilotos de um caça ou bombardeio.
De fato, se o
modelo das cavernas está certo, não existiam sociedades separadas de coletores
e de caçadores, mas eram os homens caçadores e as mulheres coletoras, vivendo
todos juntos, mas desenvolvendo psicologias evolutivas separadas e oposto-complementares.
Por esse modelo
poderíamos esperar que as mulheres ficassem sempre em volta da caverna,
desenvolvendo o olhar para coisas paradas, minuciosas nas tarefas, com grande
detalhe lingüístico para a precisão, com muitas palavras sinonímicas para
indicar variações de tons entre os objetos de mesmo gênero. Formando grupos com
as outras mulheres, conversando alto em meio ao terreno já conhecido e seguro
das redondezas, brincando, mas correndo ao menor perigo.
Os homens, pelo
contrário-complementar, deviam ir à caça (que nem sempre era de seres vivos;
sendo pequenos, como já foi mostrado, aproveitavam muitas carcaças) e a coleta
longe do lar, em meio ao perigo e às feras vivendo o máximo possível em
silêncio, econômicos de palavras, sempre sujos de barro (para ocultar os
cheios), rastejando, pegando e fugindo mesmo.
Seriam os desenvolvedores de armas
de arremesso, como arco-e-flecha, lanças, e de escudos e proteções corporais.
Ao passo que
devem ter sido as mulheres a desenvolver o plantio, pela observação continuada
e metódica dos nascimentos espontâneos nas proximidades. Que homem teria tempo
de, nas caçadas (de terra, de ar, de água), nas pescarias (que são caçadas na água),
ficar observando detalhes? Falar, só o mínimo, com o mínimo de substantivos,
porque que detalhes poderia haver em cenários que só se veria poucas vezes em
curta vida?
Então, conforme
disse, EXISTIAM (e existem ainda) duas línguas, a LÍNGUA FEMININA e a LÍNGUA
MASCULINA, hoje fundidas, a primeira farta e generosa em nuances, macia,
branda, detalhista, prosaica, poética, a segunda curta, grossa, objetiva, dura
e enganadora, porque as mulheres, tão versáteis na outra língua, devem ser
enganadas para carregar impotentemente o feto-predador até que ele se
transforme em termo viável e isso continuamente, ano após ano, desde a
menstruação muito precoce aos 8 ou 9 anos até a morte, 15 ou 20 anos mais
tarde, tendo nesse ínterim uma ninhada de filhos (com muito mais gêmeos,
trigêmeos, etc., diga-se de passagem). Por esse trabalho, conforme disse, a
Natureza premiou as mulheres.
Seria preciso
investigar mais a fundo.
Então, são dois
entes psicológicos muito distintos (e muito complementares), postos pela
Natureza para distintas tarefas. O domínio patriarcal fez com que tivéssemos de
fazer compras, com os desastres esperados e bem visíveis.
Deveríamos
visualizar as cavernas, suas redondezas e a saída para a caça e a coleta. Ora,
da coleta natural à coleta artificial foi só um pulo. Se segue que as mulheres
foram as inventoras da agricultura e da pecuária.
Como disse, os gatos são animais
femininos que caçam ratos e baratas, longamente treinados para a proteção
interna do lar, ao passo que os cachorros são animais masculinos, orientados
geneticamente para a proteção externa do lar. Se as mulheres inventaram a
agropecuária, vem daí que inventaram também os acumuladores para o futuro, por
exemplo, cestas, balaios, panelas, utensílios, cuias, ânforas.
E as pinturas nas
cavernas não são rituais coisa alguma: são os retratos da jactância masculina,
os homens mostrando às mulheres e meninas e aos meninos futuros guerreiros o
que fizeram longe de casa, as coisas terríveis (e aumentadas) por que passaram,
o velho “papai é o maior” ou “como eu sofro para sustentar vocês com
proteínas”.
O velho modo de ganhar as
queridinhas, as gatinhas, as perseguidas, na falta de carrões, de restaurantes,
de brindes e outros charmes atuais.
Uma ou outra bugiganga surpreendente
trazida de muito longe já valia uns dias de prazer. E de juntar porcarias das
redondezas as mulheres deviam entender mesmo.
Enfim, ver o
passado é poder projetar a ortodoxia (ficam pendentes as mudanças, as
surpresas, as heterodoxias, o que vem para embaralhar o já sabido).
Isso nos faz
pensar que as mulheres sejam MUITO MAIS ortodoxas ou conservadoras que os
homens e que estes, saindo sempre, prezam as novidades a ponto da loucura e da
irreflexão. Os homens são do reino das heterodoxias, da não-fixação, da
renovação constante, o que implica uma série de outras derivações.
Para as compras e
vendas, as demandas e as ofertas de toda a socioeconomia, isso é mais que um
achado, é uma revolução inteira.
Vitória,
quarta-feira, 28 de agosto de 2002.
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