A Fadinha dos Dentes e os Ortodontistas (da série Conto N'Ato)

A Fadinha dos Dentes e os Ortodontistas

O ortodontista sussurrou para a aten-dente:

- Fala que eu não tou, fala que não tou, fui pra um atendimento de emergência em Cachoeiro.

- Ele não está, saiu correndo, tava com uma pressa danada.

- Nem adianta, vi o carro debaixo da árvore, escondido, pode dizer a ele que tou aqui.

ATEN-DENTE (abrindo a porta e falando baixinho) – doutor, não colou, ele viu o carro.

DOUTOR – eu escutei, droga, droga, droga. Mande ele entrar.

ATEN-DENTE – o senhor faça o favor.

O tubarão entra, todo largão, esbarra nos batentes, a parede estremece.

TUBA (íntimo) – aê, doutor, tô de volta, lindo e bonitão (e abre o maior sorriso, com suas centenas e centenas de dentes).

DOUTOR (para si) – um jacaré e um tubarão no mesmo dia, assim nem vou conseguir aposentar (abre a porta, para a aten-dente) – dona Dulce, pode desmarcar os outros, não vai ter condições, depois das seis a senhora pode ir, mande três lanches, vamos atravessar a noite. Desmarque também os de amanhã, vou ter de dormir. Vá fazer aquela tomografia, se a senhora conseguir encaixe, vou ligar por Jirau.

TUBA – quantos implantes o senhor vai fazer hoje, doutor?

DOUTOR – quantos dentes a fadinha dos dentes levou na última semana?

TUBA – 18, por quê?

DOUTOR – só dá para aprontar quatro e olhe lá.

DENTIÇÃO DOS TUBARÕES

	Tubarão de Hollywood, colocou botox.
Abusado, querendo aparecer na TV.	Close na cadeira.

TUBA (faz muxoxo) – sóoo, doutorzinho?

DOUTOR – e olhe lá, eu disse. No quê você perdeu os dentes?

TUBA – mordi um surfista que entrou muito no mar além dos recifes, peguei ele de jeito, mas fiquei enjoado, soltei, tava com gosto de parafina, embora queimadinho de sol, potencialmente uma delícia, mas com parafina, entende?

SURFISTAS E OUTROS INCAUTOS

	Surfista querendo fazer amizade.
Surfista levando comida para os tubarões.	Provocação, não.

DOUTOR – já falei procê se controlar, assim o tratamento vai ficar muito caro.

TUBA – como, doutor? É instinto, eu fico me controlando, falo os mantras que o senhor ensinou, OOOOMMMM, entrei pra yôga (tá certa a pronúncia?), tô fazendo meditação no mosteiro, mas quando vi já mordi.

DOUTOR – vou te passar o telefone de um psicólogo que tem ajudado os artistas, mas não fala que fui eu que dei, tá?

Serra, terça-feira, 13 de novembro de 2012.

José Augusto Gava.