40
Anos de Distância
Tecnirama é uma enciclopédia em três volumes, datando no Brasil de
1963 e no original britânico de 1962/3. Os verbetes foram escritos por gente
gabaritada, professores de universidades européias e americanas, de forma que
corresponde senão ao conhecimento da linha de frente, de quem estava
efetivamente fazendo tecnociência, pelo menos de quem estava próximo,
conversando com os pesquisadores, lendo seus artigos, etc.
Agora estamos em 2002,
de modo que passaram perto de 40 anos, ou mesmo isso. Olhando para a
enciclopédia vemos que aquele conhecimento permanece válido, como não poderia
deixar de ser, porém MUITO foi acrescentado, houve refinamentos
extraordinários, diversificadíssimos itens foram incrementados.
Dizem que os conhecimentos
humanos estão dobrando a cada 10 anos, o que é ao mesmo tempo motivo de alegria
e assustador. Razão de contentamento porque estamos ficando coletivamente mais
sábios e talvez consigamos evitar tanto desperdício e tantos ferimentos à Vida
geral e à Vida-racional em particular. Aterrorizante porque tudo crescendo tão
rápido estamos ficando cada vez menores, individualmente, menos independentes
(o que é bom e ruim ao mesmo tempo), como já retratei tantas vezes.
Dizem que os
conhecimentos estão dobrando a cada 7 anos, 52 vezes em 40 anos. Se for a cada
10 anos, 16 vezes em 40 anos. De qualquer modo é espantoso demais, PORQUE, queira
notar que a humanidade passará para “apenas” 12 bilhões em 2050 e se for de 10
em 10 anos o Conhecimento terá multiplicado por 32, o que quer dizer que haverá
à disposição de cada um 32/2 = 16 vezes mais conhecimento. E como nos últimos
50 anos antes de nós também teria multiplicado por 32, na estimativa mais
conservadora, quer dizer que no mínimo as informações disponíveis multiplicaram
por 16 x 16 = 256, grosso modo. Em 2100 já teria multiplicado por quatro mil, contando de 1950, ou 64
mil, contando de 1900.
Se isto não te assusta,
não o que poderá fazê-lo, pois a mim me deixa em pânico. Como não podemos reter
individualmente tanta coisa, é claro que tal Conhecimento migrará para fora de
nós, como já está fazendo desde os primórdios, desde quando foi inventada a
escrita, de um tempo para frente fazendo-o para as máquinas-programa, os
programáquinas de memória, inteligência e controle artificiais.
Haverá cada vez maior quantidade
de dados fora de nossas cabeças e de nosso controle, vagando por ai. Quando os
seres novos emergirem, formas novas de ver o universo surgirão com eles e o ser
humano estará se vendo DE FORA, por vezes de modo bem desagradável para nossa
autoestima. Com tanta massa crítica é certo que haverá choques tremendos para
os seres humanos.
O que em princípio era e
é motivo de tremenda satisfação pode se tornar um problema sério, se não for a
questão bem administrada. E politizada.
Vitória,
segunda-feira, 8 de julho de 2002.
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