Sunday, November 03, 2013

40 Anos de Distância (da série Expresso 222..., Livro 4)


40 Anos de Distância

 

                        Tecnirama é uma enciclopédia em três volumes, datando no Brasil de 1963 e no original britânico de 1962/3. Os verbetes foram escritos por gente gabaritada, professores de universidades européias e americanas, de forma que corresponde senão ao conhecimento da linha de frente, de quem estava efetivamente fazendo tecnociência, pelo menos de quem estava próximo, conversando com os pesquisadores, lendo seus artigos, etc.

                        Agora estamos em 2002, de modo que passaram perto de 40 anos, ou mesmo isso. Olhando para a enciclopédia vemos que aquele conhecimento permanece válido, como não poderia deixar de ser, porém MUITO foi acrescentado, houve refinamentos extraordinários, diversificadíssimos itens foram incrementados.

                        Dizem que os conhecimentos humanos estão dobrando a cada 10 anos, o que é ao mesmo tempo motivo de alegria e assustador. Razão de contentamento porque estamos ficando coletivamente mais sábios e talvez consigamos evitar tanto desperdício e tantos ferimentos à Vida geral e à Vida-racional em particular. Aterrorizante porque tudo crescendo tão rápido estamos ficando cada vez menores, individualmente, menos independentes (o que é bom e ruim ao mesmo tempo), como já retratei tantas vezes.

                        Dizem que os conhecimentos estão dobrando a cada 7 anos, 52 vezes em 40 anos. Se for a cada 10 anos, 16 vezes em 40 anos. De qualquer modo é espantoso demais, PORQUE, queira notar que a humanidade passará para “apenas” 12 bilhões em 2050 e se for de 10 em 10 anos o Conhecimento terá multiplicado por 32, o que quer dizer que haverá à disposição de cada um 32/2 = 16 vezes mais conhecimento. E como nos últimos 50 anos antes de nós também teria multiplicado por 32, na estimativa mais conservadora, quer dizer que no mínimo as informações disponíveis multiplicaram por 16 x 16 = 256, grosso modo. Em 2100 já teria multiplicado por quatro mil, contando de 1950, ou 64 mil, contando de 1900.

                        Se isto não te assusta, não o que poderá fazê-lo, pois a mim me deixa em pânico. Como não podemos reter individualmente tanta coisa, é claro que tal Conhecimento migrará para fora de nós, como já está fazendo desde os primórdios, desde quando foi inventada a escrita, de um tempo para frente fazendo-o para as máquinas-programa, os programáquinas de memória, inteligência e controle artificiais.

                        Haverá cada vez maior quantidade de dados fora de nossas cabeças e de nosso controle, vagando por ai. Quando os seres novos emergirem, formas novas de ver o universo surgirão com eles e o ser humano estará se vendo DE FORA, por vezes de modo bem desagradável para nossa autoestima. Com tanta massa crítica é certo que haverá choques tremendos para os seres humanos.

                        O que em princípio era e é motivo de tremenda satisfação pode se tornar um problema sério, se não for a questão bem administrada. E politizada.

Vitória, segunda-feira, 8 de julho de 2002.

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