Thursday, November 28, 2013

B* Beiçuda (da série Cometários)


B* Beiçuda

 

Nos ônibus a falta de educação está aumentando em vez de diminuir.

Os pobres agora usam celular para tocar música a toda altura, em geral funk ou gospel, nunca músicas suaves ou clássicas. Fazem isso em espaço público e os ouvidos da gente doem terrivelmente

O B* aí é de baleia, uma pessoa gordíssima. Como gordura excessiva é malvista em todos os sentidos, a pessoa portadora de doença da obesidade é malvista. A palavra “beiçuda” diz respeito à projeção dos lábios, em geral o de baixo, indicando emburramento. A palavra é usada aqui no sentido de apontar uma pessoa insolente, irreverente no pior sentido.

A combinação fala daquilo que o povo chama de “tribufu de beiço”, já usado noutro artigo e que usarei de novo: uma coisa horrenda, escrofulosa.

Há cada vez mais gente assim orgulhosa, quando o orgulho deveria estar diminuindo após os milênios de ensinamentos dos iluminados. As pessoas estão cada vez mais arrogantes, mais atrevidas, mais abusadas.

Aquele mundo de gente de cara fechada.

Como ficar alegre na condição de vida deles? Três ou quatro horas de viagens de ônibus todos os dias, salários baixíssimos, seguro-saúde que é o SUS-to do governo federal (as pessoas ficam seis ou sete horas na fila só para pegar ficha para o médico, onde são atendidos três meses depois em dois minutos; se há algum exame lá vão de novo para a fila pegar ficha, outra espera de três meses; com os resultados, outra fila e ficha para o primeiro médico, mais três meses – nisso pode se passar um ano inteiro; se é câncer progressivo violento, nesse ínterim a pessoa está morta).

Contudo, temos a realidade das caras fechadas.

Carantonhas fechadas.

Baleias beiçudas.

Foi o termo que encontrei para retratar a infelicidade geral nos ônibus que pego. Há bem poucos rindo (eu mesmo e poucos mais).

Serra, sexta-feira, 12 de agosto de 2011.

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