Discutindo
a Propriedade
Fui levar Silas
para passear e lá de longe, 100 metros ou mais (a ponto de eu não ter certeza
de estarem se referindo a mim), a mulher dizia a outra sobre um “cara de pau”
(por Silas estar defecando numa calçada que nem era a dela), supostamente eu.
Tomei isso como
oportunidade de discutir a propriedade.
Vejamos as
calçadas.
Elas dão para a rua
e são construídas em geral pelos proprietários dos terrenos: isso quer dizer
que as calçadas são REALMENTE dos donos das casas ou lotes? De modo nenhum,
pois quando as casas são vendidas não há negociação a respeito dos passeios. Ninguém
as inclui, ninguém vende calçada junto da casa ou lote.
É exatamente por
isso que a faixa é chamada de “passeio público”.
Como já mostrei, as
ruas não são dos motoristas, sejam eles proprietários dos carros ou não. As
ruas são de todos que pagam tributos, mais daqueles que não as usam para
trânsito que dos outros, embora usufruam como passageiros eventuais de ônibus.
Já discuti isso alhures, não quero recomeçar aqui.
Os “passeios
públicos” existem para os pedestres: carros não devem circular por eles, embora
durante muito tempo tivesse sido comum no Brasil sem leis estacionar sobre
elas.
Já mostrei também
que não faz sentido anunciar a propriedade DAS COISAS MESMAS: ninguém possui
rio, montanha, moto, camisa. O que há é um acordo MENTAL, pois tudo é
compromisso mental, de onde vem as leis e a obediência a elas. Navio, trem,
gibi, quadro – nada disso está dentro da mente. Tudo não passa de frágeis
circuitos eletroquímicos que a morte dissolve e às vezes até uma pancada e o
esquecimento. Escritos em livros não subsistem sem quem os interprete e aceite,
porisso não existe MESMO a PROPRIEDADE, o que é próprio da pessoa.
O que existe é o
acordo legal.
Tudo mental.
Ninguém tem
VERDADEIRAMENTE sequer a casa, quanto mais a calçada que é, declaradamente,
“passeio público”, é do público e usável por ele, por todos.
Creio que a ideia
de propriedade deveria ser discutida a fundo em todas as instâncias, com os
resultados sendo ensinados nas escolas.
Serra, quinta-feira,
01 de setembro de 2011.
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