Sunday, November 03, 2013

Ilhas (da série Expresso 222..., Livro 4)


Ilhas

 

                        Observe que a definição clássica de ilha, que nos fazem decorar no ensino fundamental, é “Ilha – porção de terra cercada de água por todos os lados”, ao passo que istmo tem um pedaço ligado à terra mais vasta.

                        Pela definição a Austrália deveria ser uma ilha, pois é cercada de água por todos os lados – no entanto é chamada de continente, que o Houaiss eletrônico dá como “vasta extensão de terra cercada pelas águas oceânicas”. Ora, se é cercada de água por todos os lados deveria ser uma ilha. De fato, todos os continentes seriam ilhas. E lago? O Michaelis eletrônico diz que é “porção de água cercada de terras”. Acontece que há terra em volta, mas por fora ainda há água. Só seria lago efetivamente se fosse uma poça no centro de um planeta todo de terra. Península também não se salva, pois é um istmo maior.

                        Vê-se que a definição é falha, dando motivos a tremendas confusões. Ademais, por baixo da água a terra da ilha se une à terra dos continentes – por baixo tudo está unido. Veja o artigo Terra ou Oceano?, para visualizar a questão melhor, se você mesmo não o fez.

                        Os oceanos e os mares na verdade constituem poças maiores ou menores sobre a crosta. Na realidade não passam de lagoas ou lagos grandes, cercados de terra por todos os lados, inclusive por baixo.

                        Como ficamos?

                        Ficamos com definições falhas que levam a conflitos, e potencialmente a paradoxos, pois definições deficientes constituem conflitos lógicos implícitos. Daí eu ter insistido que precisamos vigiar as definições.

                        Isso pode colocar as crianças em enrascadas, pior ainda, fazendo-as duvidar da sanidade mental dos adultos, de que não estariam sendo bem conduzidas em seu crescimento – e sabemos como isso é desastroso (para sempre), gerando tanta confusão mental. Foi porisso que a Clarice Lispector insistiu em que falássemos certo, ou de outro modo não saberíamos se estamos sentando à mesa ou na mesa, em cadeira ou em cima da mesa mesmo, se estamos sendo civilizados ou bárbaros.
                        Vitória, segunda-feira, 08 de julho de 2002.

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