Ilhas
Observe que a definição
clássica de ilha, que nos fazem decorar no ensino fundamental, é “Ilha – porção
de terra cercada de água por todos os lados”, ao passo que istmo tem um pedaço
ligado à terra mais vasta.
Pela definição a
Austrália deveria ser uma ilha, pois é cercada de água por todos os lados – no
entanto é chamada de continente, que o Houaiss eletrônico dá como “vasta
extensão de terra cercada pelas águas oceânicas”. Ora, se é cercada de água por
todos os lados deveria ser uma ilha. De fato, todos os continentes seriam
ilhas. E lago? O Michaelis eletrônico diz que é “porção de água cercada de
terras”. Acontece que há terra em volta, mas por fora ainda há água. Só seria
lago efetivamente se fosse uma poça no centro de um planeta todo de terra.
Península também não se salva, pois é um istmo maior.
Vê-se que a definição é
falha, dando motivos a tremendas confusões. Ademais, por baixo da água a terra
da ilha se une à terra dos continentes – por baixo tudo está unido. Veja o
artigo Terra ou Oceano?, para
visualizar a questão melhor, se você mesmo não o fez.
Os oceanos e os mares na
verdade constituem poças maiores ou menores sobre a crosta. Na realidade não
passam de lagoas ou lagos grandes, cercados de terra por todos os lados,
inclusive por baixo.
Como ficamos?
Ficamos com definições
falhas que levam a conflitos, e potencialmente a paradoxos, pois definições
deficientes constituem conflitos lógicos implícitos. Daí eu ter insistido que
precisamos vigiar as definições.
Isso pode colocar as
crianças em enrascadas, pior ainda, fazendo-as duvidar da sanidade mental dos
adultos, de que não estariam sendo bem conduzidas em seu crescimento – e
sabemos como isso é desastroso (para sempre), gerando tanta confusão mental.
Foi porisso que a Clarice Lispector insistiu em que falássemos certo, ou de
outro modo não saberíamos se estamos sentando à mesa ou na mesa, em cadeira ou
em cima da mesa mesmo, se estamos sendo civilizados ou bárbaros.
Vitória, segunda-feira, 08
de julho de 2002.
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