Posto
de Reclamação
Desde que comecei
a pensar a questão das praças como interfaces psicológicas entre as prefeituras
e os cidadãos, comecei também a reparar em quão displicentes têm sido os
prefeitos em toda parte, mesmo nos países mais avançados, mesmo no
primeiro-país do primeiro mundo (não necessariamente os EUA em tudo).
Por exemplo, os
vulcões e fissuras, como vi nas seções geológicas, são as válvulas de escape -
os vulcões pontuais e as fissuras em linha – relativamente ao interior da
Terra, ao fogo e à agitação que lá borbulha; mas as prefeituras não dispõem de
aberturas que deixem escapar a revolta antes que ela acumule a ponto de
ruptura.
Assim, a rebeldia continua a somar
sempre, como numa represa que não deixasse nunca vazar água que um dia rompesse
com tudo.
Antes era mais freqüente tal
rompimento definitivo, na Antiguidade e em outras eras, agora há alguns pontos
de fuga, como o carnaval e outros.
Seria o caso de
colocar não pontos de atendimento e sim POSTOS DE RECLAMAÇÕES para, como diz o
povo, todos e cada um que desejasse ir lá e “baixar o cacete”, “deitar a
lenha”, falar mesmo à vontade, tudo sendo devidamente anotado sem identificação
da pessoa (o que deveria ser um compromisso dos dirigentes; sem câmaras de
vigilância nem microfones nem nada).
Pessoas treinadas para ouvir, anotar
tudo e fazer a triagem do que é relevante.
Isso não só
deixaria vazar as insatisfações e inquietações como serviria de orientação aos
governantes sobre o que está fazendo falta, ajudando efetivamente a governar.
Tomando a temperatura em todos os
pontos do corpo-cidade seria possível reagir a tempo ou até antecipar-se para
os pedidos mais corriqueiros. Tal governo supersensível ainda não existe, mas
pode meritoriamente vir a existir.
Vitória,
terça-feira, 01 de março de 2005.
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