A
Conveniência dos Paradigmas
Embora muitos falem
contra os paradigmas, tal como os descreveu Kuhn, eles estão longe de ser tão
ruins como se diz. Pelo contrário. Afora durante as revoluções, é excelente que
existam mesmo. São a base da evolução, enquanto sua destruição é condição das
revoluções. Porém, o mundo não pode ficar em revolução mais que 2,5 % ou 1/40 do
tempo, creio eu, ou de outras forma ninguém produziria.
Assim sendo, os
paradigmas são convenientes, até muito convenientes. Quem pode trabalhar se há
permanentemente baderna em toda parte e tiroteio nas ruas? A Ciência e o
restante do Conhecimento dificilmente prosperará em tais condições, exceto quando
esteja operando o modo revolucionário, ou seja, quando tem significado
desobstruir o caminho das teias ou cristalizações, com a proposta de
modificações profundas e terminais.
Os paradigmas são
programas a serem seguidos pela grande maioria. A “pequena maioria” (isso faz
sentido, creia, porque a pequena maioria, em geral sufocada, se manifesta nas
revoluções, enquanto a grande maioria o faz durante os períodos evolucionários)
fica o tempo quase todo abafada, vindo à tona quando o mundo está indo para o
buraco, justamente recebendo a missão espinhosa de salvá-lo.
A grande maioria não é
estúpida, só não sabe tudo. Sabe o lado menor da realidade, porque não pesquisa
tão a fundo quanto a pequena maioria, os inconformados. Estando conformada,
necessariamente ela está contida na mediocridade, a qual também deve subsistir
enquanto não for substituída. Enquanto for útil a mediocridade é que conduz o
mundo.
A mediocridade
paradigmática foi a sabedoria revolucionária de antes; a ortodoxia foi a mais
pura heterodoxia antes. Tudo que é comum hoje foi um dia profunda verdade
oculta, que lutou tremendamente para vez a luz do Sol, contra as opiniões de
quase todos, menos dos revolucionários que as conduziam.
E é bom que as posições
revolucionárias, antidogmáticas, sejam obstruídas, pois elas devem provar seu
valor e utilidade, ou de outro modo a todo instante deveríamos alterar o curso
das coisas. Imagine o que seria a todo momento mudar a direção de seis bilhões
de pessoas.
Não há como, certo?
Então, os dogmas ou
paradigmas devem existir e até prosperar enquanto não forem fortemente
contestados por formas mais avançadas ainda de ver e de proceder.
Estão errados os que
atacam irrefletidamente os paradigmas. Os modelos ou padrões ou protótipos, os
congelamentos são também utilíssimos porque afastam os medíocres da fronteira
das discussões. Quão desagradável seria se todos se pusessem a discutir sobre
tudo, causando tremenda balbúrdia na linha de frente do trem de ondas das
mudanças!
É claro que quando a
gente fica aborrecida com os paradigmas, já está sendo considerado tudo isso. A
reprovação vai para aqueles que podendo estar mais adiante recusam-se a pensar
e a avançar, mantendo-se fiéis e superfiéis ao atraso, quando nitidamente está
sendo oferecida uma solução melhor, a qual não é vista por falta de um mínimo
de audácia.
Só estes nos aborrecem.
Quanto aos demais, os
paradigmas são utilíssimos.
Ninguém diria que os
brinquedos de crianças não servem só porque já passamos dessa fase.
Vitória, quinta-feira,
20 de junho de 2002.
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