Sunday, November 03, 2013

A Memória do Caos (da série Expresso 222..., Livro 4)



 
A Memória do Caos

                  No modelo há memória e inteligência, o par oposto/complementar, dois motores independentes.

                        Então, em certa mesa me veio essa coisa de “memória do caos”: que é como nos separamos do caos, pois como alguém disse a memória é o que nos separa do caos. Que memória seria essa?

                        É a história, o modo como as elites se separam do povo, enquanto a geografia é como o povo se separa das elites. Mais certo seria falar das massas, a grande maioria que trabalha em silêncio, ao passo que a pequena maioria (como eu disse noutro texto) usufrui, enquanto não vier o comunismo e logo a seguir o anarquismo. Então temos pelo centro a geo-história, o povelite/nação.

                        Se segue daí que a MEMÓRIA DO CAOS serve às elites, enquanto o CAOS DA MEMÓRIA serve ao povo. A memória do caos, embora possa até não parecer, é a inteligência, a memória nova, a re-novação, enquanto o caos da memória é a memória, a inteligência velha, a “re-velhação”, o que leva à repetição, à ortodoxia, aos rituais, às ditaduras que têm medo do futuro.

                        A inteligência é do que dependem as elites para prosperar e penetrar o futuro, para dominar e explorar as massas. Ela domina e memoriza o caos que as massas tendem a produzir. As massas, por outro lado, quando querem cooptar a revolução que interessa às elites, investem em tornar a memória caótica, destruindo os edifícios públicos e privados que viabilizam o passado (do qual devem se lembrar as elites para fugir à repetição – então as elites o mantém quanto podem, mas não por amá-lo) opressor, liberando aquele futuro progressista, não-repetitivo, das elites desenvolvimentistas (a burguesia mais avançada).

                        Memorizar o caos exige inteligência, pois não se trata da memória anterior e sim da memória nova, para a qual não existe classificação. Ela não está em escaninhos, em boxes, razão pela qual as elites devem penar para entender. Empregam nisso legiões de historiadores recém saídos do forno universitário, vibrantes em entusiasmo por descobrir coisas e conseguir espaço e respeitabilidade. Assim, incidentalmente, continuam a ajudar as burguesias do mundo a dominar as massas locais. Que fazer?

                        Não há nada a fazer?

                        Começando com as pessoas (indivíduos, famílias, grupos, empresas) e ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundo), o poder vai crescendo. Embora pouco possamos fazer como indivíduos, pois o mundo em si é muito grande, nele já está a semente da mudança, até atingirmos o equilíbrio da memórinteligência ou inteligênciamemória, tanto faz.

                        Enquanto isso precisamos olhar melhor, compreendendo como a inteligência produz a memória nova sobre o caos de autodefesa das massas e como estas respondem com a destrutividade da memória velha, fixando-se a esta com furor e firmeza inapeláveis.

                        Vitória, domingo, 23 de junho de 2002.
 

No comments: