A
Memória do Caos
No modelo há memória e
inteligência, o par oposto/complementar, dois motores independentes.
Então, em certa mesa me
veio essa coisa de “memória do caos”: que é como nos separamos do caos, pois como
alguém disse a memória é o que nos separa do caos. Que memória seria essa?
É a história, o modo como as elites se separam do
povo, enquanto a geografia é como o povo se separa das elites.
Mais certo seria falar das massas, a grande maioria que trabalha em silêncio, ao
passo que a pequena maioria (como eu disse noutro texto) usufrui, enquanto não
vier o comunismo e logo a seguir o anarquismo. Então temos pelo centro a
geo-história, o povelite/nação.
Se segue daí que a
MEMÓRIA DO CAOS serve às elites, enquanto o CAOS DA MEMÓRIA serve ao povo. A
memória do caos, embora possa até não parecer, é a inteligência, a memória
nova, a re-novação, enquanto o caos da memória é a memória, a inteligência
velha, a “re-velhação”, o que leva à repetição, à ortodoxia, aos rituais, às
ditaduras que têm medo do futuro.
A inteligência é do que
dependem as elites para prosperar e penetrar o futuro, para dominar e explorar
as massas. Ela domina e memoriza o caos que as massas tendem a produzir. As
massas, por outro lado, quando querem cooptar a revolução que interessa às
elites, investem em tornar a memória caótica, destruindo os edifícios públicos
e privados que viabilizam o passado (do qual devem se lembrar as elites para
fugir à repetição – então as elites o mantém quanto podem, mas não por amá-lo)
opressor, liberando aquele futuro progressista, não-repetitivo, das elites
desenvolvimentistas (a burguesia mais avançada).
Memorizar o caos exige
inteligência, pois não se trata da memória anterior e sim da memória nova, para
a qual não existe classificação. Ela não está em escaninhos, em boxes, razão
pela qual as elites devem penar para entender. Empregam nisso legiões de
historiadores recém saídos do forno universitário, vibrantes em entusiasmo por
descobrir coisas e conseguir espaço e respeitabilidade. Assim, incidentalmente,
continuam a ajudar as burguesias do mundo a dominar as massas locais. Que
fazer?
Não há nada a fazer?
Começando com as pessoas
(indivíduos, famílias, grupos, empresas) e ambientes (municípios/cidades,
estados, nações e mundo), o poder vai crescendo. Embora pouco possamos fazer
como indivíduos, pois o mundo em si é muito grande, nele já está a semente da
mudança, até atingirmos o equilíbrio da memórinteligência ou
inteligênciamemória, tanto faz.
Enquanto isso precisamos
olhar melhor, compreendendo como a inteligência produz a memória nova sobre o caos de autodefesa das massas e como
estas respondem com a destrutividade da
memória velha, fixando-se a esta com furor e firmeza inapeláveis.
Vitória, domingo, 23 de
junho de 2002.
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